Violência política de gênero é um dos fatores que impedem mulheres de exercerem mandato no país, apontam especialistas
O voto feminino no Brasil foi conquistado há 92 anos. Ao longo desse período houve avanços na participação das mulheres na política, mas ainda hoje há demandas a serem superadas, como a paridade de gênero nos parlamentos, apontam especialistas ouvidas pela Folha.
“É impossível não pensar que, passados quase 100 anos da conquista do voto, [ainda] temos questões que são da mesma ordem de 1930. Isso é difícil de lidar”, afirma Cibele Tenório, jornalista e doutoranda em história pela UnB (Universidade de Brasília).
Cibele diz que ter representantes mulheres indígenas dentro do parlamento é uma das conquistas, mas pontua que a violência política de gênero, por exemplo, é um fator que impede as mulheres de exercerem seu mandato com tranquilidade.
Hannah Maruci, doutora e mestra em ciência política pela USP e co-diretora d’A Tenda das Candidatas, afirma que, mesmo com os direitos políticos adquiridos, ainda temos um percentual baixo de mulheres no parlamento.
“Estamos falando daqui a pouco em cem anos [do direito ao voto] e não estamos nem perto de uma paridade, e as mulheres ainda ouvem discursos muito parecidos com aqueles proferidos na década de 1930”, afirmou.
Ela exemplifica lembrando de um discurso do então presidente Michel Temer (MDB), durante o Dia da Mulher, em que ele falou frases como: “as mulheres que sabem o preço do supermercado” e “isso eu deixo para minha esposa”.