Parlamentares usam emendas impositivas e títulos de utilidade pública para fortalecer a fatia da sociedade civil organizada antiaborto
Os posts nas redes sociais não deixam dúvidas: a Casa Mãe Oásis da Imaculada, em Belo Horizonte, é contra o direito ao aborto. Um dos vídeos no Instagram diz: “Aborto – Cena do demônio sobre o mal do mundo moderno”. Em seu site, a Casa diz que tem como missão “atender e acompanhar as gestantes e puérperas em situação de vulnerabilidade ou risco social”. Mas, no dia a dia, no atendimento por telefone, não fica claro às mulheres que buscam ajuda se a Casa está disposta ou não a auxiliá-las em seu direito ao aborto nos casos garantidos por lei.
Quando abordada por uma mulher que procura auxílio para uma amiga que engravidou após estupro e deseja abortar, a atendente da organização insistiu em conseguir o contato da vítima, dando a entender que poderia ajudar. Ao ser questionada: “Mas se ela (a gestante) decidir tirar (fazer o aborto), vocês ajudam?”. A atendente respondeu: “Nós ajudamos, sim, mas a gente tem que conversar com ela”.
A estratégia se repete em outras organizações. Em meio a dezenas de postagens sobre o acolhimento a mulheres que estão vivendo uma gravidez indesejada ou gestantes em situação de vulnerabilidade, algumas deixam explícita sua real vocação: a luta antiaborto.
Várias organizações usam táticas questionáveis para dificultar o acesso de mulheres a seus direitos sexuais e reprodutivos, muitas vezes levando-as a crer que receberão apoio para o aborto legal enquanto, na verdade, tentam dissuadi-la da decisão. E algumas entidades ainda recebem suporte e visibilidade de parlamentares nas esferas federal, estadual e municipal. O apoio ocorre, com frequência, por meio da destinação de emendas ou na facilitação de processos para que elas recebam dinheiro público.