(Paulo Mondego, Portal R7) Dados da Polícia Civil revelam que 120 crianças e adolescentes, entre zero e 17 anos, sofreram algum tipo de violência sexual só no primeiro trimestre deste ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 57,89%, quando foram registrados 76 casos. A maioria das vítimas é representada por meninas residentes na periferia.
De acordo com a delegada-chefe da DPCA (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente), Valéria Martinera, os casos têm aumentado ano a ano, desde a criação da delegacia especializada.
– O aumento se deve, na verdade, ao registro das ocorrências que antes não chegavam ao conhecimento da polícia. Hoje, a população acredita que o agressor pode realmente ser preso. A própria criação de uma delegacia especializada no atendimento de crimes como esses também contribui para o aumento de denúncias.
Apesar do aumento do número ser explicado pelas novas notificações, casos recentes de estupro no Plano Piloto deixaram a população em alerta. No final de março, uma adolescente de 16 anos foi estuprada no início da tarde na Asa Sul, após deixar a escola a pé. Já na última semana, o Clube Vizinhança da Asa Sul foi palco de uma suspeita de estupro. Um diplomata iraniano é acusado de acariciar meninas dentro da piscina.
Embora tenha aumentado o registro das ocorrências, apenas 24 prisões foram feitas desde novembro do ano passado até hoje. Segundo a delegada Valéria, as prisões dependem de provas materiais que comprovem as denúncias.
– Nem todos os casos cabem prisão. A maioria acontece entre quatro paredes e sem testemunhas.
Ceilândia, campeã de ocorrências
Os dados da Polícia Civil mostram que no ano passado 409 casos de crimes sexuais contra menores foram registrados no DF. A maioria das vítimas era meninas entre 12 e 15 anos. A cidade que mais registrou casos foi Ceilândia, com 79 ocorrências.
Jane Medeiros mora em Ceilândia e começou a perceber que a filha de três anos estava com o comportamento diferente. Em julho do ano passado, Jane foi chamada na escola da menina e ouviu da professora que a filha estava agressiva e fazia gestos obscenos para os coleguinhas.
– Eu conversei com a minha filha e descobri que o pai abusava dela quando a levava para casa dele. Fiquei desesperada e busquei ajuda da polícia que comprovou após um exame no IML(Instituto Médico-Legal) que minha filha teve o hímen parcialmente rompido.
Segundo a conselheira tutelar de Ceilândia Sul, Giuliane Sampaio, a maioria dos agressores tem grau de parentesco com as vítimas e as ameaçam para garantir o silêncio.
– As denúncias chegam ao conselho sempre por meio de alguém de confiança da vítima, uma coleguinha de escola, vizinhos ou professores. Como as vítimas são ameaçadas de morte, dificilmente elas têm coragem de revelar para a mãe os abusos que sofrem em silêncio.
Leia em PDF: Casos de violência sexual de crianças crescem 60% no DF neste ano (Portal R7 – 23/04/2012)