A saúde de mulheres e pessoas com útero é marcada por gargalos de conhecimento, pouca escuta e conflitos de interesse, por isso devemos nos informar
Fiz uma pequena lista para pacientes e, também para quem cuida, de pontos que precisam ser respeitados quando pensamos em saúde. Trago nesta coluna também para que um número crescente de mulheres e pessoas com útero tenham mais conhecimento de si e capacidade de gestão sobre a própria saúde. São as principais recomendações e orientações que ofereci no último ano em consultório, rodas e entrevistas.
1- Exames ‘de rotina’, rastreio de doenças, check up, quando não há sintoma devem respeitar recomendações baseadas em evidência científica. Cuidado com consultas anuais das quais você sai com exames sem a adequada orientação sobre seus benefícios e riscos;
2- Ter HPV diagnosticado em exame que identifica DNA viral não implica necessidade de mudar práticas sexuais, além do uso de preservativo quando possível. Ter HPV não significa que você terá verruga ou câncer de colo, significa que você precisa seguir as orientações de acompanhamento recomendadas. Nomes desse exame: ‘captura híbrida de DNA HPV’, PCR;
3- Não faz sentido dosar hormônio anti-mulleriano para avaliação de reserva ovariana se você nunca tentou gestar. Os valores de referência desse hormônio não são padronizados para determinar a chance de uma gravidez. Essa dosagem, junto a outros dados, pode avaliar a possibilidade de sucesso em fertilização in vitro;
4- Se você tem 35 anos ou mais, é muito provável que tenha sido alvo do algoritmo para congelamento de óvulos, uma técnica valiosa para preservação de fertilidade em algumas situações, mas que não é o seguro-bebê que fazem parecer;
5- A fertilidade não decai tão vertiginosamente após os 35 anos quanto o mercado da reprodução faz parecer. Minar a confiança das pessoas na própria potência corporal é estratégia antiga para manutenção de mulheres (principalmente) reféns das práticas mercantis;