Violência de terno e gravata, por Márcia Conrado, Priscila Gambale e Adriane Lopes

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

18 de junho, 2025 Congresso em Foco Por Márcia Conrado, Priscila Gambale e Adriane Lopes

A violência política de gênero nem sempre é silenciosa. É, cada vez mais escancarada, dita ao microfone, estampada em manchetes e registrada em vídeos que viralizam e se repetem em ciclos de indignação e esquecimento.

Quem está dentro sabe: esse tipo de violência não começa na hora da fala atravessada ou do ataque explícito. Ela é mais profunda e está no modo como o poder foi historicamente construído para excluir mulheres – especialmente mulheres negras, indígenas e periféricas.

Ser mulher na política é um exercício de resistência. Somos prefeitas ocupando um espaço que historicamente nos foi negado: o da política. Sabemos na prática que a violência política de gênero não começa no ataque, mas muito antes. Começa quando enfrentamos o machismo com julgamentos, as tentativas constantes de deslegitimar as nossas decisões e até mesmo nossos corpos ou as roupas que vestimos, quando somos questionadas sobre nossa competência e segue depois nos bastidores onde decisões são tomadas sem nos chamarem, nos espaços onde nossa presença ainda é tratada como concessão e não como direito.

Desde 2021, a Lei 14.192 reconhece a violência política de gênero como crime. Define que qualquer ação que busque restringir ou impedir direitos políticos de mulheres deve ser punida. O Código Eleitoral passou a tipificar como crime assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar uma mulher eleita ou candidata por sua condição de gênero, raça ou etnia. A pena vai de 1 a 4 anos de reclusão mais multa.

Mas como o Brasil trata essa lei? Entre 2021 e 2023, o Grupo de Trabalho de Prevenção e Combate à Violência Política de Gênero do Ministério Público Federal monitorou 175 casos. Apenas 12 viraram ação penal eleitoral, segundo dados do Monitor de Violência Política de Gênero e Raça do Instituto Alziras. A violência, portanto, acontece e depois é ignorada.

A violência se aprofunda nas redes sociais, onde algoritmos ganham com o discurso de ódio. Se você é uma mulher negra ou de origem periférica e ousa divergir, os ataques serão multiplicados. Porque não basta ser mulher. Muitas vezes é preciso se encaixar nos moldes do que o sistema considera “aceitável”.

No meio de tudo isso, há o peso invisível, mas real, do cuidado. Enquanto exercemos mandatos, seguimos sendo mães, filhas, cuidadoras, profissionais. O tempo que nos falta não é falta de organização, mas sim fruto de uma estrutura que ainda naturaliza o acúmulo de funções como papel da mulher.

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