Violência política de gênero: uma ferida aberta na democracia, por Prof. Dorinha Seabra

01 de setembro, 2025 Congresso em Foco Por Prof. Dorinha Seabra

Ataques e ameaças corroem a presença feminina no espaço público.

A violência política de gênero é uma ferida aberta na democracia brasileira. Ela não acontece apenas quando uma mulher é impedida de falar em um plenário ou sofre agressões diretas – mas também quando é atacada nas redes, ridicularizada por sua aparência, silenciada em debates, ameaçada de morte ou obrigada a conviver com campanhas de ódio simplesmente por ocupar um espaço que é seu por direito. A Lei nº 14.192/2021 reconheceu esse crime, mas os episódios seguem se multiplicando, deixando claro que a legislação sozinha não basta.

Os números mais recentes são alarmantes e enchem de indignação. Em 2024, o Brasil registrou recorde de episódios de violência política contra mulheres, superando as eleições anteriores. E não se trata de casos isolados: uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios revelou que mais de 60% das prefeitas e vices afirmam ter sofrido algum tipo de violência durante a campanha ou no exercício do mandato. São mulheres que enfrentaram insultos, intimidações e tentativas explícitas de apagamento – um retrato cruel de como a misoginia ainda tenta se impor pela força do medo.

Essas agressões não são apenas ataques individuais; são golpes contra toda a sociedade. Cada vez que uma mulher é silenciada, a democracia perde cor, diversidade e legitimidade. E o cenário é ainda mais duro para mulheres negras, indígenas, jovens e LGBTs, que carregam camadas adicionais de preconceito e violência. O espaço público, que deveria ser um território de debates e propostas, muitas vezes se transforma em um campo de batalha em que as mulheres precisam lutar duas vezes: primeiro, para serem eleitas; depois, para sobreviver politicamente.

Levantamento do projeto De Olho nas Urnas, em parceria com o Observatório da Mulher na Política, revelou aumento significativo da violência política de gênero nas eleições municipais de 2024. Os casos saltaram de 13 para 28 durante as convenções partidárias e de 29 para 50 no mês anterior ao pleito, em comparação a 2020.

As candidatas a prefeita foram as mais atingidas, seguidas por vereadoras, com predominância de violência psicológica e simbólica. Em outubro de 2024, houve registros graves, incluindo ameaças, fraudes, agressões físicas, estupro e tentativas de feminicídio.

O estudo aponta que mulheres de todos os partidos foram alvo, demonstrando que a violência política de gênero é um problema estrutural, que ultrapassa fronteiras ideológicas. Essa realidade reforça que nenhuma mulher, por mais preparada e respeitada que seja, está imune ao machismo político.

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