(Agência Câmara) Durante o 9º Seminário Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), realizado nesta terça-feira, o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) criticou o governo federal por não ter levado adiante o Programa Escola Sem Homofobia, que previa, entre outros pontos, a distribuição nas escolas de todo o País de um kit sobre questões de gênero e sexualidade. O material foi produzido, mas está parado há mais de um ano. O evento foi promovido pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; e de Educação e Cultura.
“O programa foi suspenso devido à pressão de forças políticas aqui dentro do Congresso. Infelizmente, a presidente Dilma Rousseff cedeu. A mídia também abraçou os argumentos fundamentalistas. Primeiro, criticaram a estética do material, depois questionaram a necessidade de algo específico sobre a homofobia. Ora, [é necessário] porque essa prática é mais comum nas escolas do que outras formas de discriminação, como mostram as pesquisas”, argumentou.
Bullying homofóbico
No encontro, a representante da Unesco, Maria Rebeca Gomes, apresentou dados de uma consulta sobre bullying homofóbico realizada pela entidade em escolas de 25 países. “O estudo mostra que em todos os países pesquisados, dos cinco continentes, existe essa prática discriminatória, e enfrentá-la ainda é um desafio grande. Nos países da América do Sul, por exemplo, mais de 50% dos jovens gays já sofreram bullying, muitos abandonam a escola por causa do preconceito, o que prejudica a qualidade do ensino”, disse.
Maria Rebeca ressaltou a necessidade de orientar os professores para eles saibam como lidar com o bullying. “A primeira coisa a fazer é reconhecer o problema. Depois, temos de preparar o corpo técnico das escolas, trabalhar isso desde o ensino infantil até à educação superior. É preciso trabalhar com cada faixa etária”, argumentou.
Ela defendeu ainda a distribuição de kits para combater a homofobia nas escolas. “Tivemos um retrocesso com a decisão do governo de não fazer a entrega no ano passado, mas, às vezes, é preciso retroceder para avançarmos. A suspensão da entrega do material trouxe a reflexão, o debate dentro de grupos mais conservadores. O material é de belíssima qualidade e vimos pessoas que não o conhecem discutindo esse material”, afirmou.
Desempenho escolar
O coordenador-adjunto do Projeto Diversidade Sexual na Escola da Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, Alexandre Bortolini, disse que escolas onde há maior incidência de práticas homofóbicas tendem a ter piores resultados.
Segundo ele, uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe-USP), em parceria com o Ministério da Educação, mostrou que há uma relação direta entre a homofobia no ambiente escolar e o resultado na Prova Brasil. “O estudo revelou altos índices de discriminação em todas as escolas, em todas as séries. Isso ia diminuindo à medida que evoluíam as séries. Não estamos falando só de algo que tem a ver com relações interpessoais, mas que prejudica o desempenho de todos na escola”, afirmou.
Bortolini ressaltou que não há uma receita pronta para trabalhar a sexualidade e a questão de gênero dentro da escola. Na opinião dele, esses assuntos precisam ser descobertos ao longo do tempo. Ele destacou também que muitos professores acabam reproduzindo no dia a dia escolar práticas preconceituosas.
Acesse em pdf: Deputado critica governo por suspender entrega de kits sobre homofobia (Agência Câmara – 15/05/2012)
Veja a cobertura completa da Agência Câmara sobre o 9º Seminário Nacional LGBT: