(Marta Suplicy, especial para a Folha de S.Paulo) Lembro dos primórdios do movimento feminista quando, jovenzinha estudante nos EUA, via fascinada as manifestações na universidade. Dos prédios dos dormitórios eram lançadas calcinhas e sutiãs numa exigência pela igualdade (havia ainda uma certa confusão, que se percebia na queima das peças femininas!).
O movimento começou com esse tipo de radicalização -o qual hoje avalio que era o possível e não foi mal-, que depois evoluiu para a exigência às diferenças (quando percebemos que queremos exercer a maternidade). O caminho percorreu de “o nosso corpo nos pertence” à disputa do poder político e oportunidades de trabalho e salários iguais.
Foram muitas vitórias, principalmente nas áreas de comportamento e mudanças nos valores machistas, mas nosso corpo ainda não “nos pertence” nem no Brasil nem em grande número de países. Na política, apesar de termos uma presidenta, somos pouquíssimas. No mundo dos negócios estamos ocupando cada vez mais funções, mas ainda poucas diretorias e presidências, apesar de termos Graça Foster à frente da maior empresa brasileira, a Petrobras.
Apanhamos muito e levamos uns 50 anos para chegar às grandes conferências da ONU não focadas em gênero, mas que veem nas mulheres a força essencial para levar adiante as grandes mu-danças ambientais que a humanidade precisa.
O Ministério do Meio Ambiente, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, assim como a Fiesp, a Firjan e ONGs, estão realizando encontros na Rio+20 para tratar do papel da mulher no desenvolvimento sustentável. Algumas ações brasileiras inovadoras -como envolver as mulheres líderes empresariais-, bem como pesquisas para avaliar qual a melhor forma de chegar à mulher, estão em curso. Preocupação enorme com os 40 milhões de cidadãos recém-inseridos na classe média e sua consciência para o consumo e práticas sustentáveis.
A mulher é o alvo pois ela é quem educa e orienta o consumo familiar. Que eu me lembre, nunca vi essa percepção da importância de analisar e criar condições de tomada de consciência e ação para a mulher se tornar agente ativo na preservação do planeta.
Michelle Bachelet, diretora-executiva da ONU Mulheres, está brilhando nas iniciativas que revolucionam o empoderamento das mulheres no mundo. Todas temos clareza da interdependência entre as questões de gênero e a rapidez no desenvolvimento sustentável. Nossa presidenta também, e tem feito tudo que “a caneta” permite nessa direção. Pela primeira vez teremos, no dia 21, a Cúpula das Mulheres Chefes de Estado e de Governo.
Ao que tudo indica parece que nós, mulheres, entramos na fita e o brilho chegou para clarear.
MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta coluna.
Acesse em pdf: Nós, mulheres, por Marta Suplicy (Folha de S.Paulo – 16/06/2012)
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