21/06/2012 – ‘Nossos corpos nus nas ruas expressam os nossos sonhos de autonomia e liberdade’

21 de junho, 2012

(Articulação de Mulheres Brasileiras e Tambores de Safo) No último dia 18, durante a manifestação pública das redes articuladas no Território Global das Mulheres da Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, nós feministas das Tambores de Safo nos expressamos,  mais uma vez, com nossa arte e nossa música, em defesa da justiça socioambiental e repudiando o desenvolvimento do capitalismo verde que ameaça direitos das populações e a natureza, agravando as múltiplas crises que vivemos – social, ambiental, climática, financeira, alimentar.

Na passeata, tocamos nossas alfaias e desnudamos nossos corpos para expressar politicamente nossa indignação e protesto, somando-nos ao alerta feminista manifesto nesta Cúpula dos Povos, diante dos resultados das negociações da Rio+20.

Frente à repercussão de nosso ato queremos comunicar, juntamente com nossas companheiras integrantes da Articulação de Mulheres Brasileiras, os sentidos de nossa ação feminista.

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Nosso corpo, nosso primeiro território. Com este pensamento, nós mulheres do movimento feminista fomos às ruas. A passeata foi um grito contra o capitalismo que tenta se disfarçar de verde, mas se mantém com sua voracidade de lucro que tudo transforma em mercadoria: o ar que respiramos, os conhecimentos dos povos, a água, as florestas, as sementes, a vida… Nossos corpos livres e nus falaram ao mundo que não aceitamos que os governos tratem nossos direitos como moeda de troca para patrocinar um dito desenvolvimento que não considera os direitos humanos.

Queremos viver bem, viver em condições de igualdade, viver com liberdade. Mostramos nossos peitos nus como expressão política da nossa luta. Tocamos tambores e gritamos nossas palavras de desordem. Queremos por fim à ordem patriarcal, capitalista e racista. Nossos peitos indignados exigem ar puro para viver.

Nosso corpo nos pertence. Este foi o nosso grito feminista nos anos 1970. Com ele denunciamos a exploração e dominação. Hoje, renovamos este clamor. Queremos ser donas de nossa própria vida, livres do racismo e da lesbofobia. Livres da violência machista na família, nas ruas e na mídia. Livres da discriminação na política e da dupla jornada de trabalho.

Queremos decidir o que vestir, o que comer e como viver. Não aceitamos as imposições do modo de produção e de consumo com o qual o capitalismo tenta submeter os povos do mundo. Nossa mesa é um ponto de encontro com quem convivemos e amamos, e nela queremos compartilhar alimentos saudáveis. Por isso gritamos não aos agrotóxicos, aos transgênicos, à monocultura. Do alimento depende a saúde do nosso corpo. Temos direitos de exigir alimentos saudáveis.

Denunciamos a violação de nossos corpos pelos homens, pela mídia, pela sociedade e pelas instituições que lhe dão sustentação. Denunciamos a heterossexualidade como obrigação que nos impõe uma forma de viver nosso afeto e prazer, marginalizando ou transformando em fetiche a lesbianidade e a bissexualidade. Denunciamos os abusos da medicina estética e da indústria cosmética que manipula, explora e controla nosso corpo e impõe sofrimento e risco de morte a muitas mulheres pressionadas pelos padrões de beleza ditados pela indústria e pela mídia, empresas que estão nas mãos de homens brancos e burgueses que ganham enormes lucros com as nossas dores e com a venda de ilusões.

Condenamos a exploração das mulheres pela indústria farmacêutica. Em todo o mundo, as mulheres formam a maioria das pessoas que consome tranquilizantes, remédios que anestesiam nossos corpo e nossa mente, para que suportemos a opressão e violência que nos causam tanto mal. Lutamos para escolher tratamentos e modos de vida e para impedir que os grandes laboratórios ganhem com nosso adoecimento.

Exigimos o fim da exploração das mulheres negras pela cultura patriarcal e racista, que nos trata como produto de exportação. Nosso corpo não está à venda. Nossa imagem não é mercadoria. Queremos o fim da exploração do corpo e da sexualidade das mulheres.

É preciso superar a hegemonia capitalista e reconhecer legítimas outras formas de economia e de produção do viver, em bases colaborativas e solidárias. É preciso por fim a relações de produção e trabalho baseadas na exploração sem fim das pessoas e da natureza, na divisão sexual do trabalho e na superexploração das mulheres dela decorrente.

Defendemos a efetivação dos direitos de todos os povos do mundo e seus territórios e seus modos de vida. E defendemos os direitos de nós, mulheres, à igualdade, à autonomia e à liberdade em todos os territórios onde vivemos e naqueles onde existimos. Nossos corpos são nosso primeiro território.

Afirmamos que nosso projeto de felicidade inclui inúmeras possibilidades­­­­ ­de realização: pelo estudo, trabalho, na luta política, nas artes, no lazer e não só pela maternidade, mas também por ela, desde que seja desejada.

Os nossos corpos nus nas ruas expressam os nossos sonhos de autonomia e liberdade. Queremos ser livres para o amor e o prazer. Livres para sermos mais felizes.

Rio de Janeiro e Fortaleza,  21 de junho de 2012.

Tambores de Safo e integrantes da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)

presentes no Território Global das Mulheres da Cúpula dos Povos

Acesse em pdf: Comunicado à Imprensa da Articulação de Mulheres Brasileiras e Tambores de Safo (21/06/2012)

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