(Correio Braziliense) Pesquisa mostra que, anualmente, para cada branco assassinado, 2,3 pretos ou pardos são vítimas de morte violenta. Na proporção, as cidades do Entorno do Distrito Federal estão entre as 60 piores. Ministra relaciona índice à ausência da polícia nas periferias
A violência no Brasil tem cor. Em números absolutos, proporcionalmente à população, considerando qualquer ano como referência, negros são sempre as vítimas preferenciais dos homicídios. Enquanto a morte violenta de brancos no país caiu, entre 2002 e 2010, de 20,6 para 15,5 por 100 mil habitantes da cor, entre negros o índice subiu, passando de 34,1 para 36. Ou seja, anualmente, para cada branco assassinado, 2,3 pretos ou pardos perderam a vida pelo mesmo motivo. No início do período analisado, morriam 65,4% mais negros do que brancos. Essa proporção pulou para 132,2% em 2010. O Distrito Federal ocupa a sexta posição no ranking da letalidade contra negros. Cidades do Entorno da capital estão entre as 60 piores.
Os dados constam do estudo Mapa da Violência 2012: a cor dos homicídios, divulgado ontem na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ligada à Presidência da República. A pesquisa usou informações do Ministério da Saúde de 2002 a 2010, base mais recente da pasta sobre a mortalidade no Brasil. Luiza Bairros, ministra da Seppir, afirma que os bairros periféricos, onde está grande parte da população negra, sofrem com a falta de serviços básicos, como educação e saúde, e a ausência da polícia. “São áreas que recebem menos atenção da segurança pública ou recebem uma atenção discriminatória, porque não são raros os casos em que a polícia entra em favelas para cometer abusos”, afirma a ministra.
De acordo com o pesquisador responsável pelo estudo, Julio Jacob Waiselfisz, os índices são alarmantes, não apenas porque superam o limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como epidêmico – mais de 10 mortes por 100 mil habitantes -, mas porque evidenciam o abismo racial no que diz respeito à violência. “É uma tendência histórica e preocupante porque a diferença entre brancos, que morrem menos, e negros, mais vitimados, só tem aumentado”, diz o pesquisador. Segundo ele, essa discriminação tem a ver com as condições desiguais do país. “O Estado oferece o mínimo de benefícios sociais para a maioria. Os que podem pagar vivem melhor. É assim com a saúde, com a Previdência, com a educação e, agora, com a segurança”, lamenta.
Ele acrescenta ainda a existência de uma cultura da violência que permeia sobretudo as camadas mais desassistidas da população. “A própria mídia presta mais atenção no assassinato que atinge o branco na área nobre do que contra três negros mortos na periferia. Tudo isso faz com que as áreas mais pobres recebam menos investimentos”, comenta.
O fenômeno da letalidade na juventude se acentua quando analisada a questão da cor. A partir dos 12 anos, a taxa de homicídios de brancos passa de 1,3 para 37,3 em cada 100 mil habitantes da mesma cor, aos 21 anos. No caso de negros, o índice sobe, no período etário, de 2 para 89,6. Se na população total morrem 36 negros por 100 mil habitantes da mesma cor, entre os jovens, a taxa é de 72 assassinados. Esse mesmo índice, na população juvenil branca, é de 28,3.
No topo dos municípios com as maiores taxas de homicídios de negros estão Ananindeua (PA), com 198,8 assassinados negros por 100 mil habitantes; Simões Filho (BA), com 177,8; Cabedelo (PB), 159,4; Arapiraca (AL), 155,2 mortes; e Porto Seguro (BA), 153,7.
“São áreas que recebem menos atenção da segurança pública ou recebem uma atenção discriminatória”
Luiza Bairros, ministra da Seppir
Por Renata Mariz
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