(G1) O júri popular dos acusados de matar o bailarino Igor Leonardo Lacerda Xavier terminou na noite desta terça-feira (27) com um dos réus absolvidos e outro condenado. De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Ricardo Atayde Vasconcelos foi condenado a 14 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado. Já o seu filho, Diego Rodrigo Atayde Vasconcelos foi absolvido da acusação.
O julgamento já havia sido adiado duas vezes. O crime ocorreu há 11 anos em Montes Claros, no Norte de Minas. O corpo de Igor foi encontrado em uma estrada, próxima à cidade. Na época, o fazendeiro confessou o crime, e ele e o filho aguardavam o julgamento em liberdade.
Segundo a assessoria do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, Ricardo Atayde vai aguardar recurso em liberdade. Ainda conforme o fórum, os crimes de ocultação de cadáver e fraude processual pelos quais eles também respondiam já haviam prescrevido.
Os réus chegaram ao Fórum Lafayette pouco antes das 9h, e os advogados não gravaram entrevista. No começo da sessão, os acusados se sentaram lado a lado. Por volta das 10h, o pai começou a ser interrogado, e, neste momento, o filho deixou o plenário. Ricardo Atayde confirmou que matou o bailarino e chegou a se emocionar quando relatou os detalhes do assassinato. O acusado afirmou que jogou as duas armas em uma mata e deixou o corpo da vítima em uma estrada, próxima de Montes Claros.
Em seguida, o filho do fazendeiro foi ouvido pelo juiz. Ele contou que o bailarino o assediou sexualmente e, depois disso, o pai, que presenciou a cena, buscou duas armas e atirou na vítima.
De acordo com a denúncia, o fazendeiro disse que conheceu a vítima em um bar. Os dois teriam ido buscar alguns livros no apartamento de Ricardo Atayde, quando teria visto o bailarino assediar o filho dele, à época com 19 anos. O inquérito diz que o fazendeiro disparou cinco vezes contra a vítima.
Segundo o promotor Gustavo Fantini, responsável pela acusação, a versão dos acusados é “absolutamente incompatível” com a prova pericial. Segundo ele, a morte do bailarino tratou-se de uma execução. “Igor foi sumariamente executado”, afirmou.
Com base em testemunhas, o promotor disse que vítima e o réu Ricardo Atayde já se conheciam e, inclusive, mantinham relacionamento amoroso. A defesa também afirmou que Diego Atayde não foi molestado pelo bailarino. Fantini alegou ainda não ter provas que o filho do fazendeiro tenha efetuado disparos de arma de fogo contra a vítima e, por isso, pediu a absolvição dele e a condenação do outro réu.
Para o advogado Maurício Campos Júnior, que representa os réus, insinuações sobre homossexualidade de Ricardo Athayde são absurdas, pois se baseiam em desejo de desmoralizá-lo. Segundo ele, a causa do crime foi o assédio e este não seria um motivo fútil. Para ele, a atitude do acusado expressa o valor moral, não só do fazendeiro ou de Montes Claros, mas de toda a sociedade.
A família de Igor Leonardo Lacerda Xavier acompanhou o julgamento. A mãe da vítima disse que estava angustiada, mas confiante na condenação dos réus. “O resultado desse julgamento não vai trazer nosso filho de volta”, desabafou antes de a sentença ser anunciada.
Amigos e parentes do bailarino acreditam que ele foi morto porque era homossexual. Mas, segundo a Justiça, na denúncia não consta o termo homofobia. Um representante da presidência da República veio de Brasília para acompanhar a sessão do júri. “Nós achamos esse caso emblemático pra enfrentamento da homofobia no Brasil”, disse o coordenador-geral de Promoção de Direitos LGBT da Secretaria dos Direitos Humanos, Gustavo Bernardes.
Acesse o PDF: Júri condena Ricardo Atayde pela morte de bailarino no Norte de MG (G1, 27/08/2013)