(Jornal do Senado, 24/03/2014) O presidente do Senado, Renan Calheiros, informou que vai se juntar a outros senadores para pedir à presidente Dilma Rousseff que faça uma solenidade especial para sancionar o PLS 114/1997, recentemente aprovado no Congresso e que amplia a abrangência da Lei da Ação Civil Pública para proteger também a honra e a dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. Para ele, seria necessário um evento “à altura da importância da lei”.
O tema racismo dominou a manhã de sexta-feira no Senado, que promoveu sessão especial em homenagem ao Dia Internacional contra a Discriminação Racial, aos 30 anos do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan) e ao centenário do ativista negro e ex-senador Abdias Nascimento.
— Lembro-me da indignação da presidente Dilma quando das manifestações racistas contra o jogador Tinga, do Cruzeiro. Apesar dos avanços promovidos com a aprovação de leis como o Estatuto da Igualdade Racial e a Lei de Cotas, ainda há muito a ser feito na luta contra a discriminação no Brasil — disse Renan.
O senador lembrou que, apesar de a Constituição e o Código Penal combaterem a discriminação, as penas não têm sido suficientes para inibir o que ele classificou de “o mais abominável e desprezível crime da humanidade”.
Desigualdades
Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), é triste ainda ser necessário o Plenário do Senado lembrar um dia para marcar a luta contra o racismo, visto tratar-se de um problema que já deveria ter sido eliminado da sociedade brasileira.
O parlamentar lamentou recentes casos de preconceito no futebol e disse que Abdias deixou sua marca, mas cobrou ações que ainda aguardam implementação. Uma delas refere-se à eliminação das disparidades no sistema educacional brasileiro. Cristovam lembrou que os negros são a maioria entre os 40 milhões de adultos analfabetos brasileiros.
— Isso acontece porque não fizemos o dever de casa de uma boa escola para cada criança independentemente do credo, da cor e da renda de seus pais. Essa é a tarefa que Abdias nos deixou. O filho do mais pobre tem que estudar na mesma escola do filho do mais rico. Isso é possível — discursou.
Preocupado com a luta pela igualdade no mercado de trabalho, o secretário-geral do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial, Francisco Carlos Quintino da Silva, defendeu a política de cotas para negros no serviço público. Para isso, cobrou a aprovação do PL 6.738/2013, que destina a afrodescendentes 20% das vagas nos concursos públicos federais.
O ativista alertou ainda para as dificuldades enfrentadas pelos haitianos que não param de chegar ao Brasil em busca de oportunidades.
Emoção
Emocionado, o senador Paulo Paim (PT-RS) leu os nomes de dezenas de negros brasileiros que se destacaram em áreas como esporte, arte e política e ainda fez questão de reverenciar a memória do líder africano Nelson Mandela.
Quem também se emocionou foi a atriz Zezé Motta ao falar do Cidan, entidade que fundou em 1984. Ela ressaltou o fato de o centro ter sido criado com o objetivo maior de abrir espaço para o artista negro no mercado de trabalho.
— Quando nós cobrávamos dos meios de comunicação, dos produtores e dos diretores a quase invisibilidade do negro na mídia, a resposta era que eles não conseguiam encontrar os artistas negros. E nós não conseguimos nunca entender como que se encontra o artista branco e não se sabe como encontrar o negro — afirmou.
A atriz falou sobre o curso de artes dramáticas para adolescentes de baixa renda ministrado pelo Cidan em comunidades carentes do Rio de Janeiro.
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