(Folha de S.Paulo) A propósito da decisão do Superior Tribunal de Justiça, que reconheceu adoção de duas crianças por um casal de lésbicas do Rio Grande do Sul, o psicanalista Contardo Calligaris defendeu em sua coluna semanal a adoção de crianças por casais homossexuais.
A primeira questão abordada por Calligaris em seu artigo é: “crianças criadas e educadas por um casal homossexual (feminino ou masculino) sofrem de dificuldades específicas? Seu desenvolvimento afetivo, intelectual e sexual é diferente do das crianças de casais heterossexuais?”
Como resposta, o psicanalista cita documento de 2007, endereçado à Corte Suprema da Califórnia pela American Psychological Association, a American Psychiatric Association e a National Association of Social Workers – as três grandes associações dos profissionais da saúde mental dos EUA. O texto de 72 páginas afirma que “homens gay e lésbicas formam relações estáveis e com compromisso recíproco, que são essencialmente equivalentes a relações heterossexuais” (III, A), e que “não existe base científica para concluir que pais homossexuais sejam, em qualquer medida, menos preparados ou capazes do que pais heterossexuais ou que as crianças de pais homossexuais sejam, em qualquer medida, menos psicologicamente saudáveis ou menos bem adaptadas” (IV, B).
Em seguida Calligaris menciona dois projetos em tramitação na Cãmara dos Deputados, que vão contra a decisão do STJ: o primeiro é de autoria do deputado evangélico Zequinha Marinho (PSC-PA) e o outro, do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL). “Visto que não dá mais para dizer que pais homossexuais sejam nocivos para suas crianças, os projetos se preocupam com o constrangimento das crianças diante dos colegas. Na escola, vão zombar de filho de homossexual. Para evitar esse vexame, melhor proibir a adoção por casais homossexuais. Pois é, na mesma escola, também vão zombar de negros e de pobres. Vamos impedir negro e pobre de ter filhos? O cômico é que, no Brasil, o filho de homossexual pode ser objeto de zombaria, mas essa zombaria não se compara com o que pode acontecer com filho de deputado”, escreve o psicanalista.
“A percentagem de homossexuais entre os filhos de casais homossexuais é igual à da média da população, se não menor. Ou seja, aparentemente, os homossexuais não têm a ambição de ver seus filhos se engajar na mesma ‘preferência’ sexual que lhes coube na vida.
Em compensação, quem gosta mesmo de filho-clone são todos os fundamentalistas. É quase uma definição, aliás: fundamentalista é quem quer filhos tão fundamentalistas quanto ele. Uma conclusão coerente seria: o interesse das crianças permite que elas sejam adotadas (e, portanto, criadas e educadas) por pais homossexuais e pede que a adoção seja proibida aos pais fundamentalistas evangélicos, por exemplo. Serviço. Para ler o documento de 2007, acesse tinyurl.com/docpsi“
Leia o artigo na íntegra em pdf: Adoção por casais homossexuais, por Contardo Calligaris (Folha de S.Paulo – 13/05/2010)