(Agência Brasil, 20/11/2014) Centenas de pessoas participam hoje (20) de uma série de atividades no Monumento a Zumbi, na capital fluminense. Desde cedo, afoxés, shows de música e roda de capoeira movimentam o local. Todos os anos, é feita a lavagem do monumento a Zumbi, que simboliza o herói da resistência à escravidão. Mais da metade da população fluminense – 51,7% – se autodeclara preta ou parda (negros), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o babalawo Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o resultado positivo da festa simboliza sucesso do povo negro no Brasil, ao colocar Zumbi no devido posto: de herói nacional.
“Zumbi não era nem conhecido do grande público. E o movimento negro há algumas décadas escolheu o dia 20 como Dia Nacional da Consciência Negra, em oposição ao 13 de maio [Dia da Abolição da Escravatura]. Por muitos anos, celebramos quase que solitariamente e jamais pensamos em ver essa data celebrada em todo o país”, disse Ivanir. Ele defende que a data de hoje seja feriado em todo o país, o que não é realidade ainda. O babalaô destacou que e o 13 de Maio representa uma ” abolição incompleta”. “Estamos tendo que completar a obra”, declarou.
Essa é a mesma avaliação do superintendente de Igualdade Racial do estado do Rio, Rogério Gomes. “O 13 de Maio foi uma abolição falsa. No dia 14 estávamos abandonados e largados à própria sorte.” Como exemplo desse processo, ele lembrou que comunidades quilombolas não têm acesso a saneamento básico. “A população negra acabou em moradias precárias, em favelas, e os jovens pretos e pardos são as maiores vítimas de violência.”
Ao participar das festa, o mestre de capoeira Roberto Carlos Silva, o mestre Robert, que dá aula na zona norte, disse que o trabalho em favor da consciência negra ajudou a tirar a capoeira da “marginalização”. Ele lembrou que a prática, considerada crime no passado, hoje é símbolo de resistência e atrai adeptos. “Uma coisa interessante de ver é como a capoeira tem atraído mais e mais mulheres. Daqui a pouco será um esporte feminino”, brincou ele, praticante há mais de 20 anos.
Empreendedores negros organizaram uma pequena feira no local. Estão à venda roupas africanas, camisas com referência a heróis nacionais negros, como Zumbi e Dandara (guerreira do período colonial), além de peças religiosas, material de decoração e ornamentos.
Apesar da ausência de banheiros químicos, criticado pelos presentes, a programação segue até o início da tarde. Depois, as comemorações migram para a zona portuária onde desembarcaram cerca de 1 milhão de africanos escravizados, especialmente crianças e jovens. No local, próximo ao Cais do Valongo, se apresenta o afoxé Filhos de Ghandi.
Pela primeira vez, chega à zona oeste da cidade a Feira das Yabás de Oswaldo Cruz, tradicional da zona norte da cidade. Haverá roda de samba e venda de pratos brasileiros de origem africana como o bobó de camarão e a feijoada.
Isabela Vieira
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