(Jornal Nacional, 03/12/2014) Quase 70% das jovens brasileiras afirmaram que já sofreram algum tipo de violência. Um conceito que hoje está muito mais abrangente. É o que mostra uma pesquisa que ouviu duas mil pessoas.
Assista aqui ao vídeo da matéria: Jacira Melo comenta pesquisa Avon/Data Popular sobre violência doméstica entre jovens (Jornal Nacional, 03/12/2014)
Entre o público jovem, a violência começa quando o outro invade o mesmo espaço.
“Infelizmente as pessoas ainda acham normal olhar o celular da esposa ou da namorada. Algumas práticas que antes eram naturalizadas e não eram consideradas violência passaram a ser enxergadas como um ato de violência”, afirma o presidente do Data Popular Renato Meirelles.
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A pesquisa Violência Contra a Mulher ouviu mais de duas mil pessoas, homens e mulheres entre 16 e 24 anos, pela internet. As mulheres foram questionadas sobre situações consideradas agressivas.
As cinco mais citadas foram: mexer no celular do parceiro; controlar com quem esteve; xingamento; impedir o uso de uma roupa; e proibir sair à noite. E 66% das mulheres disseram que já passaram por alguma situação dessas. E a maioria dos homens afirma ter praticado.
“As pessoas começam a perceber a violência de outro jeito, que isso começa aparecer mais nas pesquisas também. Então a gente percebe que a sociedade está mudando o que ela chama de violência e isso faz com que a gente tenha que mudar mesmo o nosso padrão de enfrentamento à violência”, aponta a antropologia Heloisa Buarque de Almeida.
Outra agressão considerada pela pesquisa é a cantada. Oito em cada dez mulheres jovens disseram que já foram assediadas e já receberam a chamada cantada, aquela que passou do ponto.
“Ah, direto, passo em frente bar, outros lugares. Olha aí: acabou de passar um agora falando ‘gostosa’”, conta a vendedora Juliana Lemos.
E não é que ela tem razão? A gente foi atrás do Rodolfo para saber o porquê da abordagem assim, na cara dura.
“É hábito, é costume. O brasileiro ele fala mesmo, ele não pensa muito, acho que está atrelado à nossa cultura isso, essa cantada”, defende o astrólogo Rodolfo Moraes.
“Claro, é legal saber que tem alguém que te acha bonita. Mas não é tão legal a forma como ele abordou”, diz Juliana Lemos.
“Acho que você tem que ser educado, romântico e respeita-la”, afirma um homem.
Mas se o conceito de violência entre os jovens parece ter sido ampliado, o de sexualidade ainda tem muito caminho pela frente: 76% deles acham errado a mulher ter vários ficantes ou casinhos e 38% concordam que a mulher que faz sexo com vários parceiros não é para namorar.
“Quando a gente fala dessa violência nós estamos falando da cultura da violência masculina em relação às mulheres e que ela precisa ser debatida na sociedade porque é ela que enseja as violências sem limites”, explica a diretora do Instituto Patrícia Galvão Jacira Melo.
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