Quilombolas denunciam perseguição de igreja e prefeitura de Traipu

11 de fevereiro, 2015

(TNH1, 11/02/2015) Líderes da comunidade remanescente de Quilombo Mumbaça, de Traipu, no Agreste, com apoio de diversas entidades do Movimento Negro em Alagoas oficializaram, na manhã de hoje, 11, denúncias de perseguição e violação de direitos por parte do pároco da Igreja da cidade e da Prefeitura Municipal.

Segundo informações da integrante da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), Valdice Gomes, que acompanha o caso, a comunidade
reclama de práticas de opressão por serem quilombolas.

Os denunciantes afirmam que são impedidos de frequentar a igreja católica da cidade. Quando perdem algum parente, não podem passar com o cortejo fúnebre em frente à paróquia.

Eles também estariam sendo impedidos de expressar sua cultura centenária em locais públicos da cidade. “As denúncias que foram recebidas apresentam relatos de pessoas que foram, inclusive, impedidas de dizer que são quilombolas em postos de saúde e em escolas da rede municipal”, comentou Valdice.

Conforme o líder comunitário, Manoel dos Santos, conhecido como Bié, a prefeitura alega ainda que a comunidade não se encaixa mais como quilombo,mas como povoado. A declaração foi dada à reportagem do TNH1 na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Jacarecica, na capital.

A palavra “quilombola”, de acordo com Santos, virou uma proibição. A Igreja teria vetado usar o verbete tanto em documentos quanto em discursos. Porém, a ordem viria da Diocese de Penedo.

Na tarde desta quarta­feira, os líderes irão ler uma carta com relatos dos quilombolas sobre as denúncias, em seguida, ela será enviada para entidades governamentais e à imprensa a fim de dar publicidade ao fato.

“DENÚNCIAS VAZIAS”

A reportagem entrou em contato com a prefeita de Traipu, Maria da Conceição Tavares, e ela negou as denúncias feitas pela liderança da comunidade.

Para Conceição, as acusações feitas contra a Prefeitura têm como objetivo “tumultuar” a gestão e não beneficiam a comunidade quilombola. Ela fez críticas severas às lideranças do grupo, inclusive relatando manipulação por “forças políticas”.

“Ninguém impede ninguém de fazer nada aqui. Até com a Igreja esse pessoal já brigou”, comentou sobre a liderança do grupo, sem apontar nomes.

“Ninguém impede a prática da cultura negra. O Município é de todos, sem distinção de cor e de religião. Esse líder quilombola nunca me procurou para discutir assunto nenhum. Isso é conversa”, criticou.

Maria da Conceição ainda citou outros grupos formados por minorias que, segundo ela, tem total liberdade dentro de Traipu. “Não só temos quilombos. Tem o MST, tem índios, tem várias instituições que vivem livremente em Traipu para se manifestar da forma que bem entenderem. Ninguém é burro de impedir isso”, declarou. “Traipu não tem mais tempo para viver de denúncias vazias”, completou.

O padre da cidade também foi procurado, mas não atendeu às ligações.

Jonnathan Firmino 

Acesse no site de origem: Quilombolas denunciam perseguição de igreja e prefeitura de Traipu (THN1, 11/02/2015)

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