(Folha.com) Levantamento sobre os dados do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher mostra que, de janeiro a setembro deste ano, o número de denúncias de cárcere privado subiu de 86 para 359, um aumento de 317% comparado ao mesmo período de 2009. A maior parte das denúncias partiu de vizinhos e parentes das vítimas.
“A visibilidade pública dos crimes e as campanhas educativas têm estimulado as pessoas a procurar o Ligue 180 e as delegacias de polícia. As pessoas estão se dando conta que a violência contra a mulher não é um problema do casal e sim de toda a sociedade”, disse Aparecida Gonçalves, secretária de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, da SPM (Secretaria de Política para as Mulheres), que coordena o serviço de atendimento telefônico.
As queixas de ameaça e lesão corporal também cresceram. De janeiro até hoje, foram registrados 88.960 casos de violência contra a mulher, dos quais 51.736 (58,4%) referem-se a violência física. Deste total, 47.255 tratam de denúncias de lesão corporal e 12.788, de ameaça física, o que representa um aumento de 234% e 102% respectivamente, em relação ao mesmo período de 2009.
Para Aparecida Gonçalves, as repetidas denúncias sobre ameaças, seguidas de homicídio, evidenciam o descrédito do funcionalismo e da segurança pública nas vítimas. “Os crimes de ameaça e lesão corporal são os que levam à morte, mas são justamente estes que menos têm credibilidade. Quando uma mulher chega a uma delegacia, ela precisa ser orientada e não ser intimidada com a possibilidade de prisão do marido ou do companheiro”, afirmou a secretária, que explicou que as mulheres em muitos casos voltam cinco, seis, sete vezes para fazer a denúncia e acabam morrendo com o boletim de ocorrência na mão.
A maioria dos agressores (82,3%) são maridos, companheiros ou ex-maridos, e as agressões não são esporádicas: 58% das vítimas são agredidas diariamente e em 51% dos casos a mulher afirma correr risco de morte.
Segundo Aparecida Gonçalves, chama a atenção o aumento do grau de crueldade. “Nestes últimos períodos temos visto como os homens estão sendo cruéis com as mulheres. Não podemos assegurar se isto já havia ou se só agora estamos vendo estes crimes”, disse a secretária.
Acesse em pdf: Cárcere privado lidera denúncias de violência contra a mulher (Folha.com – 15/10/2010)