(O Estado de de S. Paulo, 14/10/2015) Polêmica iniciada com questão de inglês em prova também levou à perda de cargo do coordenador de Publicidade da instituição
Uma polêmica que começou com uma discussão sobre uma prova com uma questão em inglês terminou com uma professora demitida, um aluno transgênero expulso e a perda do cargo do coordenador do curso. O caso aconteceu na semana passada na Faculdade Cásper Líbero, na Avenida Paulista, região central de São Paulo. O estudante de Publicidade Samuel Silva acusa docentes e alunos de transfobia.
O caso teve início no fim de setembro, após o aluno alegar ter sido prejudicado em uma avaliação de Redação Publicitária por não dominar a língua estrangeira. “Fiz uma crítica no Facebook à prova, não à professora. Eu queria que as pessoas refletissem que aquilo era elitista”, disse.
O estudante não procurou a professora antes de escrever o texto porque, segundo ele, não era tratado por ela no gênero masculino. O Estado procurou a professora, que pediu para não ter seu nome divulgado. Ela afirma que um vídeo sobre a questão em inglês havia sido passado aos alunos antes da prova, o que permitiria a busca pelo menos de uma tradução. E destacou que respeitava a identidade de gênero de Silva.
Segundo ela, seu método de avaliação agradou a turma. O grupo de alunos teria então hostilizado Silva. A professora escreveu, na sequência, um e-mail aberto à turma. Na mensagem, apontou a “vitimização moral” do estudante. O caso chegou à direção da faculdade e o coordenador do curso de Publicidade convocou uma reunião com representantes da classe. Silva entrou na sala de reunião e questionou não ter sido chamado para dar sua versão. Na sequência, ficou nervoso por ser repetidamente tratado no gênero feminino. “Quis fugir e trombei com o coordenador. Ele entendeu o ocorrido como uma agressão física.”
Segundo a direção, testemunhas afirmaram que houve agressão. E o coordenador registrou um boletim de ocorrência.
O diretor da Cásper, Carlos Roberto da Costa, atribuiu a demissão da professora ao e-mail que tornava pública a situação do estudante. “Ela cometeu uma besteira pedagógica. Foi um assédio público a uma pessoa”, disse. A professora assinou a rescisão nesta terça-feira, 13. No caso de Silva, Costa disse que o regimento interno da faculdade prevê expulsão por agressão. “Ele veio para ser aluno, e não militante. Nesse caso, ser trans não faz diferença.” O aluno alega que, se não fosse transexual, o desfecho teria sido outro.
Nesta terça, grupos da faculdade ligados a causas sociais publicaram uma nota de repúdio à decisão de expulsar Samuel Silva e de manter o coordenador no quadro de funcionários como professor. Além disso, cobraram melhor acolhida a transexuais. A direção da Cásper Líbero afirmou que ainda pode rever as decisões.
Júlia Corrêa e Vitor Tavares
Acesse o PDF: Cásper Líbero decide expulsar transexual e demitir professora (O Estado de S. Paulo, 14/10/2015)