(Revista Fórum, 19/11/2015) Em artigo, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) denuncia o apoio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para a manutenção do acampamento pró-golpe que atacou ontem (18) a Marcha das Mulheres Negras e ressalta a superação das militantes diante das adversidades
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As ruas de Brasília foram tomadas neste 18 de novembro por ares de luta, gritos de liberdade e a energia vibrante das mulheres negras em marcha. Quem pensa que o movimento aconteceu aqui, na capital do Brasil, engana-se. Tão importante como o marco dessa ocupação histórica foi sua preparação nas bases, em todo o território nacional. Juntando recursos para a viagem, arrumando as malas e reunindo as mulheres negras nas suas cidades de origem, quilombos e comunidades. O saldo é uma nova força organizada, pronta para seguir em frente. Tenham certeza, essa foi a primeira de muitas marchas.
O mais bonito de tudo isso é que diante de poderes que as excluem, e do racismo que busca manter amarras de opressão, as mulheres negras mostraram que estão dispostas a lutas importantes, e que lideram com autonomia suas próprias vidas, sua própria história. Interessante perceber uma organização muito própria, acolhedora e feminina, que faz da luta um abraço, das palavras de ordem um canto, da vibração com heroínas históricas, a especial valorização das que seguram a barra deste país racista todos os dias, sendo mulheres, negras e pobres.
O acontecimento infeliz ficou por conta do acampamento pró-golpe, que está instalado na frente do Congresso Nacional, com as bênçãos do atual presidente da Câmara. Uma vergonha! As mulheres foram impedidas de se aproximarem do Parlamento e várias foram atingidas com a violência desse grupo que privatizou para si o espaço que pertence a toda a população. Mesmo num tempo difícil como o que vivemos, os parlamentares devem resgatar o princípio de que o Congresso é o espaço sagrado da democracia. Não pode, portanto, estar fechado para um movimento como a Marcha das Mulheres Negras, pela imposição autoritária e armada de um grupo fascista.
Mas a melhor resposta foi oferecida pelo movimento de mulheres. Talvez até pela força que ele carrega, sendo construído em muitas batalhas. A marcha seguiu altiva, com ideias de igualdade, direitos, reconhecimento de uma cultura e de uma identidade negra que faz muito bem ao Brasil reconhecer. A lição que fica para os poderes da República é que as mulheres negras estão dispostas a exercer mais seu poder político e transformador. Forjadas na luta, elas não serão intimidadas.
Maria do Rosário Nunes (PT-RS) é deputada federal
Acesse no site de origem: Forjadas na luta, elas não serão intimidadas, por Maria do Rosário Nunes (Revista Fórum, 19/11/2015)