(ONU/BR, 30/06/2016) Médicos estrangeiros estão entre os profissionais de saúde que levam atendimento à população da comunidade da Mangueira. Média de diagnósticos para zika, dengue e chikungunya já chega a 20 por dia na clínica da família onde eles trabalham.
Localizada ao lado do Maracanã, um dos principais palcos dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, a comunidade da Mangueira é uma das favelas da cidade do Rio de Janeiro que recebem o atendimento de profissionais do Programa Mais Médicos — iniciativa desenvolvida pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em parceria com o Ministério da Saúde brasileiro.
Na região, dois médicos cubanos estão entre os trabalhadores que atuam na prevenção e diagnóstico do vírus zika. A rotina inclui também o acompanhamento de crianças com microcefalia.
Yohandro Bosch Casanova, um dos estrangeiros, faz atendimentos em uma área conhecida como Buraco Quente. O local, segundo ele, foi o primeiro lugar da comunidade da Mangueira que registrou um caso de microcefalia em um recém-nascido associado ao zika.
“No início da gravidez, a gestante apresentou sintomas como febre, dores articulares, lesões avermelhadas na pele e coceira. Foi diagnosticada com zika por exame de sangue. O bebê nasceu com microcefalia, mas já está sendo atendido aqui na clínica e em outras unidades também, seguindo o protocolo recomendado”, explica Casanova.
A criança se chama Adriel e mora com a mãe, Andressa do Nascimento da Conceição, de 22 anos, o irmão de quatro, a avó e um tio em uma casa de dois cômodos.
“Quando eu descobri o zika, estava com três meses e pouco de gestação. Eu tive coceira, febre, fiquei internada. O exame do Adriel deu positivo para zika, mas o meu ainda não saiu o resultado. Aí eu fui descobrir a microcefalia com seis meses de gestação, na ultrassonografia morfológica”, lembra Andressa.
A jovem conta que Adriel nasceu aos oito meses de gestação, pesando três quilos e com 27 cm de perímetro cefálico.
“Agora, ele já está com 32 centímetros, cresceu bastante. É um bebê calmo, não tem convulsão, mas tem a cabeça pequena e faz reabilitação no hospital para desenvolver mais rápido. E eu faço os exercícios com ele em casa também”, explica a mãe.
mocionada, Andressa conta que, no começo, foi muito complicado lidar com os desafios da microcefalia. “Eu saio na rua, todo mundo olha para ele. É difícil, tem que ser muito forte. Há mulheres que perdem a esperança. Não é melhor nem pior, é apenas diferente. Eu espero que ele faça tudo o que meu outro filho faz. Diferente, mas que faça. É por isso que eu estou lutando por ele.”
Acompanhamento dos casos
Andrea Moreira Chagas é gerente da Clínica da Família onde trabalham desde abril de 2014 os dois médicos cubanos. Ela conta que, desde o início de maio, a unidade está monitorando o número de casos de zika, chikungunya e dengue diagnosticados na comunidade. O número regular de infecções identificadas a cada dia já chega a 20.
“Nós já começamos a fazer articulações com a vigilância sanitária e com as associações de moradores para educar a comunidade sobre lixo e água parada. Também estamos acompanhando de perto as gestantes, em planilhas separadas, porque a gente ainda não sabe bem quais são os efeitos disso no futuro. Então, o que a gente pode fazer é o monitoramento e garantir o acompanhamento nos pós-parto.”
Segundo Casanova, já houve dias em que a quantidade de diagnósticos foi bem mais alta do que a média. “Muitas vezes atendemos mais de cem pessoas por dia aqui na clínica e já tivemos picos de diagnosticar de 48 a 60 casos por dia entre estas três doenças”, comenta.
A gestante Rogéria Mendonça acaba de entrar para esta estatística. Com 38 semanas de gravidez e suspeita de infecção pelo zika, ela foi à clínica se consultar com o doutor.
“Eu estou com a pele áspera, uma coceira insuportável, muita dor no corpo e dificuldade de me mover. Todo mundo fala que é ruim, mas só você tendo para saber mesmo o que é. Eu não sabia o que era, eu ouvia os outros falarem que estavam com zika, dengue, chikungunya… Mas ouvir falar é uma coisa, sentir é outra.”
Casanova realizou o exame clínico em Rogéria, monitorou os batimentos cardíacos do bebê e fez o pedido do exame de sangue para confirmar a infecção por zika.
“O povo brasileiro precisa de atendimento médico, ainda mais neste momento de epidemia. Por isso, eu acho que o Programa Mais Médicos é uma ideia acertada. A população gosta muito do nosso atendimento, os médicos do programa estão sendo reconhecidos nas comunidades. E também tem o aspecto humanitário do atendimento e o trabalho em equipe com os médicos brasileiros, que é algo muito positivo para nós.”
O médico explicou que ele e outros profissionais da iniciativa da OPAS e do governo brasileiro receberam treinamento para reconhecer e diagnosticar zika, chikungunya e dengue. “Semanalmente, temos palestras e formações para seguir os protocolos de cada doença.”
Zika e Olimpíadas
De acordo com o representante da OPAS no Brasil, Joaquín Molina, o país está preparado para garantir segurança sanitária de atletas e visitantes durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016.
“O país tem tomado todas as medidas necessárias, atuando de forma transparente e em tempo oportuno, conforme o Regulamento Sanitário Internacional. Avaliamos que os esforços para controle do Aedes aegypti, mosquito transmissor do zika, dengue e chikungunya têm sido efetivos.”
Molina lembrou que a taxa de incidência de casos prováveis de dengue caiu em 2016 em relação aos dois anos anteriores.
Para fortalecer o combate às doenças transmitidas pelo Aedes, a OPAS tem, desde 2015, agilizado e ampliado a compra de reagentes laboratoriais e outros insumos estratégicos — como inseticidas e kits de diagnóstico.
O organismo regional também tem dado apoio ao desenvolvimento de métodos de análise e de critérios para a definição dos casos de microcefalia, além de elaborar também técnicas laboratoriais para diagnóstico, acompanhamento das ocorrências e vigilância integrada das arboviroses (dengue, chikungunya e zika).
Molina ressaltou ainda que, como o vetor Aedes é sazonal, os meses de agosto e setembro, quando ocorrerão os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, são um período de seca e de baixas temperaturas no Rio de Janeiro — contexto em que se verifica uma menor população do mosquito.
Mais Médicos
O Mais Médicos foi criado em 2013 pelo governo federal brasileiro, com o objetivo de suprir a carência desses profissionais nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades. A representação da OPAS no Brasil colabora com a iniciativa intermediando a vinda de profissionais de Cuba para atuar em unidades de saúde do Brasil.
Com o Programa, foram preenchidas 18.240 vagas em 4.058 municípios brasileiros e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Do total de postos de trabalho, 11.429 foram ocupadas pelos profissionais cubanos.
Após a implementação da iniciativa, pela primeira vez na história, 700 municípios localizados em áreas remotas do Brasil passaram a ter um médico residente para atendimento na atenção básica. Dados do Ministério da Saúde brasileiro apontam que o Mais Médicos beneficia atualmente 63 milhões de pessoas.
Além disso, uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) – registrou avaliações positivas da população sobre o Programa após entrevistar 14 mil pessoas.
Do conjunto de entrevistados, 85% disseram que a qualidade do atendimento médico ficou melhor ou muito melhor após a chegada dos profissionais do programa. Além disso, 87% dos usuários apontaram que a atenção do profissional durante a consulta melhorou e 82% afirmaram que as consultas passaram a resolver melhor os seus problemas de saúde.
Acesse o site de origem: OPAS: profissionais cubanos do Mais Médicos combatem vírus zika no Rio (ONU/BR, 30/06/2016)