(Extra, 14/07/2016) Imagens tridimensionais inéditas da gravidade da lesão encontrada no crânio de um bebê com microcefalia, cuja mãe foi exposta ao vírus zika no primeiro trimestre de gestação, foram publicadas na capa da edição de julho da conceituada revista científica Neurology, da Academia Americana de Neurologia. De acordo com a Agência Fiocruz de Notícias, as imagens compõem o artigo “Cranial bone collapse in microcephalic infants prenatally exposed to zika virus infection” (Colapso dos ossos cranianos em bebês com microcefalia expostos à infecção pelo vírus zika na gestação).
As evidências fazem parte do trabalho realizado no Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) pelos especialistas Dafne Horovitz, Marcos Vinícius Pone, Sheila Pone, Tânia Regina Saad e Márcia Cristina Boechat. A unidade é referência na assistência a gestações de alta complexidade e na atenção integral a crianças com doenças crônicas e vem acompanhando as consequências da infecção pelo vírus zika em gestantes e o nascimento de crianças com diversas anomalias, em especial a microcefalia.
De acordo com a Agência Fiocruz de Notícias, já nos primeiros atendimentos às crianças com microcefalia, cujas mães foram expostas ao vírus, a equipe do IFF/Fiocruz foi surpreendida com achados radiológicos que apontavam para uma realidade diferente daquela vista tradicionalmente quando a causa é determinada por fatores genéticos ou mesmo por outras infecções congênitas.
– Com as imagens tridimensionais realizadas no IFF, nós conseguimos visualizar todos os aspectos da calota craniana. Nessas imagens, temos as dimensões reais. Como estamos diante de uma situação nova, o que nos chamou atenção foi o grau de deformidade do crânio – ressaltou a médica radiologista responsável pela realização dos exames e das imagens publicadas, Márcia Boechat, em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias.
A médica geneticista do IFF/Fiocruz e autora do artigo, Dafne Horovitz, destacou que o tecido cerebral foi significativamente afetado:
– No que diz respeito ao arcabouço ósseo, é como se acontecesse o colapso da calota craniana, secundariamente a destruição do cérebro que estava em desenvolvimento. Com isso, os ossos superiores foram rebaixados. Clinicamente, é possível palpar uma espécie de bico tanto atrás, na região occipital, quanto nas laterais da cabeça dos bebês.
As descobertas do estudo do IFF corroboram o que outras pesquisas também apontaram: o vírus tem uma predileção pelo sistema nervoso.
– Por conta da desaceleração do crescimento cerebral, alguns neurônios acabam perdendo as suas funções, o que prejudica diretamente a capacidade de aprendizagem dessas crianças. Contudo, dependendo da localização no cérebro onde há lesões e do grau de sua extensão, os bebês podem apresentar problemas de visão, surdez, dificuldade para deglutir a própria saliva, convulsões, entre outros sintomas – afirmou a neurologista infantil do IFF, que também esteve à frente da publicação, Tânia Saad, em entrevista à Agência Fiocruz.
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