Salões apostaram em cuidar da autoestima delas e oferecem serviços especializados
(Correio Braziliense, 04/09/2016 – acesse no site de origem)
Desde os 12 anos, para a estudante Bruna Caroline de Abreu, só existia uma alternativa: acalmar a personalidade dos fios encaracolados, e, por vezes rebeldes, com alisantes químicos. O limite aconteceu quando a jovem fez a já então recorrente escova progressiva. Saiu do salão, como de costume, mas teve uma surpresa pela manhã. Ao acordar, se deparou com o travesseiro manchado de sangue, consequência de uma forte reação alérgica ao procedimento. A partir de então, decidiu assumir, de vez, os cachos. Hoje, com 26 anos, Bruna define o início da transformação capilar como uma nova fase da vida, na qual pode ser livre. O sentimento de autonomia dela corrobora com a percepção das empresárias Helena Martins e Adriana Oliveira, que perceberam que o mercado deixava a desejar quando o assunto era tratamento de cabelos crespos e cacheados. Na falta de lugares especializados, elas abriram as portas do primeiro salão voltado a esse público e se destacaram na economia brasiliense.
Há quase uma década, na esquina do Edifício Baracat, no Conic, o Cachos Brasil faz história desde então. Como o primeiro centro de beleza direcionado para cacheadas, a proprietária Adriana comenta a dificuldade que teve, naquela época, para se estabelecer no mercado. “Quando chegamos para trabalhar com o cabelo crespo, lançaram a progressiva. Então, era como um cabo de guerra, cada um puxando de um lado. Hoje, as meninas já entendem o que elas querem”, diz a dona do estabelecimento no qual todas as funcionárias trocaram a chapinha pelo cabelo natural.
A ideia de não ter que se preocupar em escovar o cabelo para sair de casa martelava na cabeça de Adriana. Afrodescendente, ela sabe bem o que é enfrentar o drama diário de cuidar dos próprios fios. “Eu queria molhar meu cabelo e pronto. Não queria ter que prender. Queria sair com ele solto.” Foi quando idealizou o projeto de desenvolver, em parceria com o profissional da química, uma linha de cosméticos exclusiva para o público-alvo do salão e também para ela. Aliás, os primeiros testes dos novos produtos, a empresária fez no próprio cabelo, considerado difícil de cuidar, justamente pelo fato de os cachos serem fartos e bem miúdos.
Finalizada a fórmula, elaborada especialmente para o clima de Brasília, o sonho, em pouco tempo, virou realidade e encheu as prateleiras do salão da cabeleireira. Para a Adriana, conduzir uma empresa que tem a proposta de reforçar a autoestima vai além do financeiro. “Não foi por estar na moda, e sim porque chega cliente aqui chorando. Elas começam a contar as histórias, e eu entendo por que passei pelas mesmas coisas.”
Segundo o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana, o crescimento desse segmento incorpora novos consumidores. “Nos anúncios publicitários, podemos observar que as pessoas cada vez mais estão se aceitando e se valorizando.”Já o presidente do Sindicato dos Salões e Institutos de Beleza, Barbeiros, Cabeleireiros e profissionais autônomos (Sincaab-DF), Célio Paiva, frisa que a busca por tratamentos especializados engrandece a profissão. “É uma prática boa para a comunidade e para as empresas de beleza que têm esses diferenciais mercadológicos. Com o sucesso de alguns salões de beleza, que apresentam uma nova proposta, salões convencionais patrocinam cursos para que consigam se equiparar à concorrência.”