O tampão foi esquecido. Thamara não poderia ter saído do hospital com um tampão no corpo.
Os médicos não gostam da expressão “violência obstétrica”. A consideram ofensiva; já outros rejeitam qualquer acusação de que médicos possam violentar mulheres. Uns tantos dizem ser a palavra uma invenção de feministas.
Poucas histórias nos mostram com tanta dor os sentidos de ser uma vítima de violência obstétrica no Brasil quanto a agonia vivida por Thamara Macêdo, uma mulher recém-parida em Teresina.
(Huffington Post/Brasil, 22/02/2017 – acesse no site de origem)
Thamara passou por uma cesariana, e já no quinto dia depois do parto começou a sentir dores, febre, e o que descrevia como um cheiro diferente no corpo. A dor só aumentava.
Não sei detalhes de como viveu as dores do corpo e o cuidado do recém-nascido entre o dia do parto e o 20o dia, quando não mais suportando as dores resolveu procurar um médico diferente do que fez o parto. Encontrou um tampão na vagina. Para leigas, vale explicar: tampão é um pedaço de pano encaixado na vagina para estancar o sangue.
O tampão foi esquecido. Thamara não poderia ter saído do hospital com um tampão no corpo. Ela sequer foi avisada que havia um pano na vagina, não lhe informaram quando deveria retornar para a visita de resguardo.
Alguns preferem chamar isso de erro médico, outros de negligência. Uns tantos dizem que é assim mesmo a assistência em saúde pública no Brasil.
A verdade é que nada disso é invenção de feminista. Há nome certo para os maus-tratos sofridos por Thamara: violência obstétrica, um tipo específico de negligência médica que só tem mulheres recém-paridas ou em trabalho de parto como vítimas.
por Débora Diniz – Antropóloga, professora de direito e documentarista
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