É, eu sei.
Ainda falta. E falta muito, mas muito mesmo, especialmente para as mulheres negras, as pobres, as carentes, as isoladas. Mas é relevante e vale inclusive para alimentar o diálogo em busca de soluções para todas estas – e tantas outras.
(GGN, 08/06/2017 – acesse no site de origem)
Lírio Parisotto, ex-companheiro de Luiza Brunet, foi condenado a um ano de prisão por agressão física à ex-modelo e, enfim, deixa de lado a boataria que, na época, questionava se havia mesmo ocorrido o abuso. Porque ela não estava no Brasil, porque ela não fez o que algumas pessoas julgaram ser o caminho comum em casos assim e porque Luiza é, afinal de contas, uma mulher. Você já percebeu que uma mulher quase sempre está precisando provar algo pra alguém, até mesmo pra si própria? Pois é… não basta estar com os olhos visivelmente machucados, costelas quebradas. Ela precisa provar.
Aqui onde moro, nesta semana, presenciei uma agressão em plena luz do dia. O cara, marido da vítima, arrancou o celular dela de suas mãos, jogou longe e partiu pra cima, como numa briga de rua mesmo. Com socos. Você já presenciou alguém apanhando assim, com socos? O barulho oco daquela força, que é mais do que física? É uma força moral estampando escortidão na cara. Olha, não é fácil não. Haja boldo, estômago e cabeça pra tomar alguma atitude na hora. Quase não consegui mas, amparada por outras pessoas que passavam pela rua, socorremos a moça. Levamos pra dentro de um prédio público e, então, acionamos a polícia.
Sabe o que aconteceu? Após três horas, o homem esperando lá fora, a polícia chegou. Levou a moça pra conversar com o cara, “ele só estava nervoso, dona, a senhora precisa entender, a vida não está fácil pra gente que trabalha”. Ficamos estarrecidas e amedrontadas- aqui é uma cidade pequena, vai da gente se meter com a polícia e, então, ser alvo de vinganças ou algo assim? A moça, claro, desistiu de fazer o BO. Entrou no carro com o agressor, indo embora com uma expressão perdida. Nós, as outras, ficamos com aquele quê de “se faz isso na rua, imagina em casa”.
A polícia, amigos, a polícia demoveu a moça de denunciar porque isso acontece, a vida não tá fácil pra quem trabalha, sabe? Unhum. Sei sim. Que barra!
Daí que quando um milionário vai preso, ou pelo menos é condenado, porque não sei bem como funciona este tipo de condenação no Brasil, vai que ele possa fazer um ou dois trabalhos sociais, né, sei lá, quando acontece isso, a gente dá uma comemoradinha sim porque é, de certa forma, um pouco desse cara que bate em mulher em casa, na rua, na fazenda ou numa casinha de sapé sendo punido. É um pouco de razão num mundo onde as pessoas que servem pra proteger a gente – a polícia, né, acho que é pra isso… – falam que isso acontece, assim, sem esboçar sentimento de empatia algum. E não vem me dizer que tem mãe, irmã ou filha, porque mesmo que não tenha, entende? Feminismo não é só pra mulheres.
Feminismo é pro mundo e, ai, como cansa ensinar isso pra quem tá acostumado a resolver as coisas na porrada.