‘Problema é histórico e cultural’, diz doutora da Ufes sobre ES ser o 5º estado que mais mata mulheres

20 de outubro, 2017

A taxa capixaba, de 6,9 mortes por 100 mil habitantes, está acima da média nacional, que corresponde a 4,4 mortes por 100 mil habitantes. Violência só é maior em Roraima, Goiás, Mato Grosso e Rondônia.

(G1, 20/10/2017 – acesse no site de origem)

O Espírito Santo é o 5º estado onde mais se matam mulheres no país, de acordo com o Atlas da Violência de 2017. A taxa capixaba, de 6,9 mortes por 100 mil habitantes, está acima da média nacional, que corresponde a 4,4 mortes por 100 mil habitantes. A violência só é maior em Roraima, Goiás, Mato Grosso e Rondônia.

Para a coordenadora do laboratório de estudos de gênero, poder e violência da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutora em sociologia política, Maria Beatriz Nader, esse é um problema histórico e cultural do nosso estado.

“A gente teve aqui uma colonização muito forte de portugueses até meados do século 19. A partir disso tivemos uma migração estrangeira muito pautada no patriarcado. Italianos, alemães, pomeranos, libaneses. A hierarquia de gênero nessas famílias que vem pra cá é muito forte, e predomina durante muitos anos”, afirma.

O laboratório analisou mais de 12 mil boletins de ocorrência registrados entre 2001 e 2010 na Delegacia da Mulher de Vitória. O que chama atenção é que, infelizmente, as mulheres demoram a pedir ajuda.

“As mulheres têm vergonha e têm medo também. A gente conhece casos de mulheres que foram pra delegacia, fizeram a denúncia e quando saíram o marido estava do lado de fora e deu um tiro nelas. Elas têm medo disso, têm medo de voltar pra casa, o estado não protege essas mulheres”, disse Maria Beatriz.

O secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, afirma que o feminicídio é difícil de prevenir apenas com a ação da polícia.

“O feminicídio é a ponta do iceberg, é o fim do processo, é o fim da linha. A morte da mulher por características de predominância de gênero é normalmente antecedida de casos de violência doméstica”, falou.

Por isso Garcia destaca a importância das pessoas estarem atentas a isso, para interromper o ciclo de violência. “Muitas vezes, a mulher envolvida no calor da relação não toma atitude, mas nós precisamos tomar essa atitude, vizinhos, amigos, parentes, de todos tomarmos conhecimento desses fatos, devemos orientá-la, devemos protegê-la e denunciar o agressor”, afirmou.

De acordo com Garcia, “o feminicídio é um crime de preconceito, baseado na ideia da supremacia de gênero, do homem se colocar na posição de dono da mulher. Normalmente quando a mulher se desloca dessa posição de objeto para a autonomia, isto é, insurge contra essa condição, há o desfecho muitas vezes com a morte”, explicou.

Casos

Não há idade ou classe social para esse tipo de crime. Rosemary Justino Lopes, de 50 anos, foi morta pelo marido, o diplomata espanhol Jésus Figón, de 64 anos, dentro do apartamento onde o casal morava, em Jardim Camburi.

A advogada Gabriela Silva de Jesus, de 24 anos, foi sequestrada e morta pelo ex-namorado, Rogério Costa de Almeida, e um amigo dele segundo informações da polícia. Os agressores são dois jovens, de 34 e 31 anos respectivamente. A família diz que Rogério não aceitava o fim do namoro.

A médica Milena Gottardi, de 38 anos, foi assassinada a mando do ex-marido, o policial civil Hilário Frasson, de 44 anos. O casal estava em processo de separação.

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