A violência letal intencional no Brasil cresce contra negros (pretos e pardos) e regride contra não negros (brancos, amarelos e indígenas), segundo revelam os dados do Atlas da Violência 2018, que traz dados do Ministério da Saúde e foi divulgado nesta terça-feira (5) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
(UOL, 05/06/2018 – acesse no site de origem)
Entre 2006 e 2016, último ano com dados disponíveis para o levantamento, a taxa de homicídios de indivíduos não negros diminuiu 6,8%. No mesmo período, a taxa entre a população negra saltou 23,1% e foi a maior registrada desde 2006 –ano inicial da série histórica. No país, somando todas as raças, a taxa de homicídios cresceu 13,9% no mesmo período.
O estudo revela que, em 2016, a população negra registrou uma taxa de homicídios de 40,2 mortes por 100 mil habitantes, o mesmo indicador para brancos, amarelos e indígenas foi de 16. Considerando a população como um todo, o país atingiu o recorde em 2016 de 30,3 homicídios a cada 100 mil pessoas.
De acordo com o levantamento, 71,5% das pessoas que foram assassinadas no país no 2016 eram pretas ou pardas. As maiores taxas de homicídios de negros estão em Sergipe (79 por 100 mil habitantes) e no Rio Grande do Norte (70,5 habitantes por 100 mil).
Entretanto, segundo o estudo, o caso que mais chama a atenção é o de Alagoas, já que o estado teve a terceira maior taxa de homicídios de negros (69,7 por 100 mil habitantes) e a menor taxa de homicídios de não negros do Brasil (4,1).
“Em uma aproximação possível, é como se os não negros alagoanos vivessem nos Estados Unidos, que em 2016 registrou uma taxa de 5,3 homicídios para cada 100 mil habitantes, e os negros alagoanos vivessem em El Salvador, cuja taxa de homicídios alcançou 60,1 por 100 mil habitantes em 2017”, explica o documento.
Jovem negro é a principal vítima de homicídios
Segundo o Atlas, a desigualdade racial no Brasil “se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança”.
“Os negros, especialmente os homens jovens negros, são o perfil mais frequente do homicídio no Brasil, sendo muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não negros. Por sua vez, os negros são também as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil”, afirma o estudo.
Os pesquisadores ainda apontam que é preciso políticas específicas para tentar frear o número de mortes entre a população negra.
“Para que possamos reduzir a violência letal no país, é necessário que esses dados sejam levados em consideração e alvo de profunda reflexão. É com base em evidências como essas que políticas eficientes de prevenção da violência devem ser desenhadas e focalizadas, garantindo o efetivo direito à vida e à segurança da população negra no Brasil”, sugere o Atlas.
Taxas de homicídios de negros*:
- 2006 – 32,7
- 2007 – 32,4
- 2008 – 33,7
- 2009 – 34,3
- 2010 – 36,5
- 2011 – 35,1
- 2012 – 36,7
- 2013 – 36,7
- 2014 – 38,5
- 2015 – 37,7
- 2016 – 40,2
*Por 100 mil habitantes