Em pautas como a parada LGBT, as fotos e as declarações são tomadas por uma maioria de homens cis e brancos
(Brasil de Fato, 28/06/2018 – acesse no site de origem)
Dia 28 de junho é o dia do orgulho LGBT, marcado pela Revolta de StoneWall, um levante de lésbicas, trans, gays e bissexuais contra a violência policial, nos Estados Unidos. Para iniciar este artigo, recorro à fala de Neusa das Dores, uma das idealizadoras e organizadoras do 1° Seminário Nacional de Lésbicas, realizado em 1996, no Rio de Janeiro. Em uma entrevista, ela contou sobre três elementos que formam um triângulo: visibilidade, saúde e estratégia de organização.
Quando falamos em visibilidade pensamos em comunicação e, portanto, nos apagamentos que a mídia promove. Em pautas específicas, como a parada LGBT, as fotos e as declarações são tomadas por uma maioria de homens cis e brancos. Para além de fala nas pautas específicas, precisamos articular uma comunicação interseccional. Isso significa pautar as mulheres lésbicas em matérias sobre feminicídio, saúde pública, educação, economia. E nessa intersecção dar visibilidade às mulheres lésbicas negras pobres. Articular raça e classe numa comunicação que possibilite mover as estruturas hegemônicas.
Quando falamos em feminicídio, falamos em estupro corretivo e os dados do Dossiê Lesbocídio apontam o aumento de 150% de mortes de lésbicas em quatro anos. Quando falamos em saúde pública, podemos falar sobre a falta de um protocolo de saúde que promova acolhimento às mulheres lésbicas que, muitas vezes, são expulsas dos ambulatórios sem fazer o exame preventivo, já que apagam nossa sexualidade. Quando falamos em educação pública, isso também significa falar sobre a evasão de lésbicas de escolas e universidades por conta de lesbofobia e esta situação piora em tempos de Escola Sem Partido, que interdita o debate de gênero. Esta reflexão se estende aos meios de comunicação privados e alternativos.
Uma pesquisa da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) aponta que nós, mulheres, somos maioria da categoria, mas este número não se reflete no mercado de trabalho. Os cargos de chefia são ocupados majoritariamente por homens. A garantia da visibilidade também perpassa por uma questão central: a empregabilidade de mulheres lésbicas que quando reconhecidas pelo ativismo tornam-se consultoras de uma redação. Os veículos de comunicação não abrem espaço para colunas específicas para lésbicas. Visibilidade pode produzir sentidos de resistência e organização. Uma comunicação, enfim, feita por e para lésbicas. Passou da hora dos veículos abrirem seus armários e enfrentarem com seriedade essa discussão.
Ocupa tudo, sapatão!
Camila Marins é jornalista e ativista lésbica.