(Domingão do Faustão/Rede Globo) Os atores Dira Paes e Alexandre Nero falaram sobre a situação de violência doméstica contra a mulher vivida pelo casal Celeste e Baltazar, na novela ‘Fina Estampa’. Além do depoimento de uma ‘sobrevivente’, a vendedora Cileide Cristina da Silva, o programa trouxe também a fala de uma especialista, a psicóloga Lucia Williams, coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev), da UFSCar.
“É muito da vida real, infelizmente. Eu estou percebendo que as pessoas têm necessidade de falar. O ator é quase um termômetro, porque somos abordados pelas pessoas na rua. Existe uma necesside do público que quer comentar o assunto. Fiquei impressionada com a repercussão já no começo da novela. O caso da Celeste é a imobilidade, porque ela gosta do marido”, comentou Dira Paes.
“Eu tomo dura na rua”, contou o ator Alexandre Nero, que acredita que esta reação seja natural, dada a seriedade do assunto.
O programa apresentou o depoimento de Cileide Cristina da Silva, uma vendedora ambulante de 42 anos: “Tudo o que vocês veem eu vivi durante 20 anos na minha vida. Tudo isso fazia parte da minha vida. Minha mãe era uma pessoa do tempo antigo e me dizia ‘ruim com ele, pior sem ele’. Ela me dizia que um dia ia melhorar e ele me prometia isso. E eu não tinha coragem de tomar atitude nenhuma, porque ele me fez acreditar que não existia lei. Ele dizia que o pai dele fazia isso com a mãe dele, o avô com a avó e eu ficava ali achando que só ali o meu filho teria um teto para morar ou alimentação. Mas é engano nosso! Quando eu acordei para isso, eu precisei de pessoas para me ajudar e me mostrar isso. É por isso que estou aqui hoje, para mostrar a muitas mulheres que elas têm direito”, disse ela.
Alexandre Nero contou que, ao contrário de Dira, preferiu não ouvir os depoimentos de mulheres que sofrem ou sofreram estas agressões de seus companheiros para não interferir na composição do seu personagem. “Eu não quis ouvir os depoimentos no começo porque eu sabia que iria me emocionar e não teria coragem de fazer um personagem que faz isso com uma mulher. Eu não vou defender o personagem, mas eu tento compreender a mente destes homens. Eles não são malvados, eles são inseguros, eles morrem de medo de perder estas mulheres e eles são machistas”, concluiu.
A psicóloga Lucia Williams, que é professora da Universidade Federal de São Carlos e coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev), que viu a sua irmã passar pela mesma situação que milhares de mulheres brasileiras que sofrem este tipo de agressão, explicou a importância da Lei Maria da Penha, que aumentou a pena dos homens que cometem este tipo de crime. “Antes, as penas se limitavam a uma cesta básica. Hoje, com esta Lei, o Código está dizendo: nós não toleramos isso!”.
Ela, que já tratou muitos agressores, destacou que há muitos casos diferentes e que ser machista não é um distúrbio mental, mas sim uma questão cultural. “Ele não é feliz fazendo isso e ele precisa aprender formas alternativas para lidar com a mulher dele. E ela precisa ajudar também, pois quando fica passiva, ela não ajuda a melhorar a situação”, revelou. “Até agora, a novela nos conscientizou e espero que comece a apontar os caminhos e no final nós teremos muitos mais homens brasileiros conscientes do problema”.
“Serviço: Apoio à mulher
Lei Maria da Penha – A lei Maria da Penha alterou o Código Penal Brasileiro e possibilitou que agressores de mulheres, no âmbito doméstico ou familiar, sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada. Estes agressores não podem mais ser punidos com penas alternativas e a legislação também aumenta o tempo máximo de detenção previsto de um para três anos. A nova lei ainda prevê medidas que vão desde a saída do agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação da mulher agredida.
Centros de auxílio – No Brasil existem 190 Centros de Referência (atenção social, psicológica e orientação jurídica para mulheres agredidas); 72 Casas Abrigo para mulheres que sofreram violência dentre de casa; 466 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher; e 93 Juizados Especializados e Varas adaptadas.
Denúncia – Além das delegacias e casas abrigo, as mulheres também podem contar com um serviço telefônico 24 horas criado em 2006 pela Secretaria de Políticas para as Mulheres. É a Central de Atendimento à Mulher. Para denunciar, ligue 180 de qualquer telefone fixo ou móvel do Brasil.”
Dira Paes fala mais sobre a sua personagem em ‘Fina Estampa’
Dira Paes se coloca no lugar de sua personagem
Acesse a matéria sobre o programa: Dira Paes e Alexandre Nero falaram sobre o amor polêmico de seus personagens (Domingão do Faustão – 16/10/2011)