Pesquisa revela os medos e dificuldades de empreendedoras e empregadas em companhias nacionais e multinacionais
(Exame, 06/05/2020 – acesse no site de origem)
Apesar de todos estarem sujeitos a contaminação do novo coronavírus, a pandemia não atinge as pessoas da mesma forma.
No atual e crítico cenário de saúde, na capital paulista, por exemplo, pretos têm 62% mais chance de morrer vítimas da covid-19 quando comparados com brancos. Entre pardos a chance é 23% maior, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde no último dia 28.
As dificuldades da população negra se tornam ainda maiores quando dividas por gênero. Representando 28% dos brasileiros, as mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que outros grupos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
De olho nesse cenário, foi lançada a pesquisa Saúde Financeira de Mulheres Negras na pandemia da covid-19 por meio de uma parceria entre o Instituto Identidades do Brasil, a Comunidade Empodera, a organização EmpregueAfro e a Faculdade Zumbi dos Palmares. A partir de 250 entrevistadas de 19 estados, as mulheres foram identificadas em três grupos profissionais: alocadas em empresas nacionais (20%), alocadas em empresas multinacionais (7,8) e empreendedoras (72%).
Das empreendedoras, 47% tem medo de perder os clientes ou o empreendimento, e 38% tem medo de ficar doente e não conseguir trabalhar. Para 44% delas, o capital de giro é de apenas um mês, e somente 4% das entrevistadas têm capital de giro para 4 a 6 meses, mesmo que o valor médio para sustentar a instituição seja de até 5 mil reais em 56% dos casos.
“A maior preocupação é com a manutenção das despesas fixas. Minha reserva é de um mês apenas”, diz uma empreendedora do ramo jurídico identificada na pesquisa como R.C.
Para as negras em companhias nacionais e multinacionais, o medo de perder o emprego aflige 76,5% das entrevistadas, seguido por 13,2% do receio de ficar doente e não poder trabalhar. O temor faz também com que 40% sintam a necessidade de apoio psicológico.
Para os idealizadores da pesquisa, a pandemia torna a situação financeira das mulheres negras ainda mais crítica, visto que a ajuda mensal de 600 reais no auxílio-emergencial é insuficiente para a manutenção dos negócios, o que impacta diretamente na sustentabilidade do empreendimento e da sua subsistência pessoal.
As dificuldades trazidas pela pandemia do novo coronavírus, podem então, servir também como base para a construção de mecanismos e políticas públicas e privadas que apoiem à subsistência dessas mulheres negras, seus empregos, negócios, e consequentemente a sociedade como um todo.
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