Órfãos do feminicídio: precisamos falar sobre isso, por Neusa Maria

feminicídio

Ato 8M Avenida Paulista Março de 2023 – Foto: Juliana Vieira

05 de abril, 2023 Correio Braziliense Por Neusa Maria

“Acordei com gritos, eles foram ficando abafados como se fossem gemidos, fiquei congelado, senti medo de ver o que estava acontecendo. De repente, ouvi ainda mais gritos desesperados. Eu tapei os ouvidos com as mãos, meu coração acelerou e eu comecei a chorar. No fundo, eu já sabia que a minha mãe estava morta. É uma dor que eu nunca vou esquecer.” (C. A., 13 anos).

A violência doméstica impacta de forma profunda e negativa a vida das mulheres pretas. São dois marcadores, gênero e raça. Em 2022, das mulheres atendidas pelo projeto Renascer, de apoio a mulheres em situação de violência, 49% se autodeclararam negras, 30%, pardas. Assim, 79% das mulheres atendidas eram mulheres negras. Ou seja, a violência tem cor.

O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo, e o segundo maior em população negra. A violência doméstica atinge de forma brutal e covarde mulheres e crianças pretas. Raça é marcador social e de violência. Apenas nos primeiros 45 dias de 2023, seis mulheres foram assassinadas em Brasília. O Estado falhou na proteção, a rede falhou, nós falhamos. O feminicídio é uma morte evitável.

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