Análise: Impacto econômico da epidemia do vírus zika, por Denizar Vianna Araujo

13 de março, 2016

(O Estado de S. Paulo, 13/03/2016) Banco Mundial estima que a infecção vá custar aproximadamente US$ 3,5 bi em 2016 no cenário mundial e US$ 310 mi no Brasil

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que a infecção causada pelo zika é uma situação de emergência de saúde pública de alcance internacional. A comunidade científica ainda pesquisa a provável relação causal entre a infecção pelo vírus na gestação e a ocorrência de microcefalia em neonatos, enquanto a relação com a síndrome de Guillain-Barré foi estabelecida em estudo epidemiológico publicado recentemente, do tipo caso-controle, na população da Polinésia Francesa.

 

Outra dimensão importante da epidemia do zika é o impacto econômico, principalmente nos países da América Latina e do Caribe. Em geral, as estimativas econômicas são geradas em quatro categorias de custos: os custos diretos relacionados a assistência aos pacientes, a perda de produtividade, a perda relacionada a morte prematura e o impacto da evasão de recursos, por exemplo perdas com o turismo. Ainda não foram realizados estudos com delineamentos acurados para estimar o impacto econômico do vírus no Brasil, porém o Banco Mundial estima que a infecção vai custar aproximadamente US$ 3,5 bilhões em 2016 no cenário mundial e US$ 310 milhões no Brasil.

Estudos econômicos elaborados no cenário brasileiro com a dengue, que se caracteriza como outra arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, revelaram custo estimado, durante o surto epidêmico (2012-2013), de US$ 468 milhões ou US$ 1,2 bilhões após o ajuste para subnotificação da doença. Outro estudo brasileiro estimou o impacto da vacinação contra a dengue na saúde pública no Brasil. Os autores estimaram redução de 22% dos casos de dengue para o cenário mais conservador (campanha até 10 anos) e 81% no cenário mais liberal (campanha de vacinação até 40 anos) ao longo de cinco anos.

A tentativa de realizar uma analogia de custos entre a dengue e zika tem limitações metodológicas importantes. A dengue é uma infecção com maior carga de sintomas e grande impacto na produtividade. Em contrapartida, os efeitos do vírus zika sobre a maioria das pessoas são leves, no entanto, ele pode estar associado a sequelas crônicas, como por exemplo a microcefalia, que exigirá cuidados especiais durante toda a vida dessas crianças.

Denizar Vianna Araujo é professor associado do Departamento de Clínica Médica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Coordenador do Centro de Excelência em Avaliação Econômica e Análise de Decisão da Provac Network – Organização Panamericana de Saúde (OPAS)

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