Apesar da redução nos casos, pesquisadores precisam do apoio das gestantes para compreender melhor o vírus e seus impactos
O cenário atual da microcefalia diminuiu bastante em relação aos anos anteriores. O último boletim da Secretaria Estadual de Saúde (SES), que compila dados até 25 de fevereiro, mostra 43 notificações da síndrome congênita do zika, com uma média de 21,5 casos por mês. Em 2016 foram 1.097 notificações, ou seja, uma média mensal de 91,4.
(Folha de Pernambuco, 20/03/2017 – acesse no site de origem)
Já em 2015 a média foi de 96,3. Uma queda significativa da inclusão de crianças com a síndrome congênita foi observada já em 2016. Mas, neste ano, estão mais fortes. Nas oito primeiras semanas do ano passado foram 387 casos, no mesmo período de 2017 são 29. A redução é de 92,5%. Apesar da tendência de desaceleramento, o vírus e seus impactos na gestação precisam ser mais bem compreendidos e para isso pesquisadores precisam do apoio das gestantes.
“Risco zero não existe para o zika ainda, mas as notificações de microcefalia estão bem menores do que no ano passado”, avaliou o diretor de Controle de Doenças e Agravos da SES, George Dimech. A recusa de grávidas com suspeita de zika durante a gestação em participar de um levantamento da saúde dos filhos que nasceram aparentemente sadios pode mascarar danos tardios do vírus, que vão além da microcefalia. Esse foi o alerta dado pelos médicos Ricardo Ximenes, da UPE e UFPE, e Laura Rodrigues, da London School Hygiene and Tropical Medicine, do Reino Unido.
Eles participam da pesquisa de coorte de grávidas que apresentaram manchas na pele (exantema) e que é conduzida pelo grupo Merg, da Fiocruz Pernambuco. Até agora, das 600 mulheres triadas pela pesquisa, 300 já passaram pela investigação inicial. Dessas, 150 apresentaram alguma evidência laboratorial de zika, mas 20 negaram que seus filhos fossem avaliados.
O passo a passo
Em Pernambuco, entre 2015 e 2017, foram 4.848 gestantes com exantema notificadas pela SES. Dessas, 34 tiveram a confirmação de microcefalia do bebê ainda intrautero. Ximenes comentou que na primeira abordagem a gestante é notificada pela Secretaria Estadual de Saúde, quando, na ocasião, ela é triada e tem coletado sangue para análise.
Depois disso, é feita a segunda coleta de sangue. “Quando chega o momento de levar a criança para ser avaliada, algumas mães recusam”, explicou o pesquisador. Laura Rodrigues destacou que há várias apresentações da síndrome que precisam ser melhor esclarecidas. “Está claro que há outras alterações. A criança pode não ter microcefalia, mas pode ter outros problemas, como os de audição e visão.”
Mães mais tranquilas
A dona de casa Rosália Gomes de Lima, 28 anos, e o filho Davi, de 9 meses, fazem parte do levantamento. “Só vivia usando repelente e manga comprida, mas, mesmo assim, fiquei doente. Tive muita dor no corpo, na cabeça, febre e as manchas no corpo. Passei o resto da gravidez apreensiva, mas graças a Deus ele nasceu bem”, contou. Em julho ela foi triada para a pesquisa e realizou todos os exames junto com Davi.
Testes de laboratório confirmaram o zika nela, mas negaram a presença no filho. Uma ultrassonografia nele, contudo, verificou calcificação discreta. O menino não tem microcefalia ou danos visuais. Na coorte pernambucana a meta inicial é acompanhar os filhos de gestantes com exantema até os quatro anos de idade. Neste período além de exames de imagem do cérebro, olhos e ouvidos, por exemplo, as crianças terão avaliação cognitiva e comportamental que também podem identificar doenças mentais como o autismo.
Laura Rodrigues acrescentou que a mensagem principal para as mães é não ter medo. “Os bebês podem ter uma coisa que elas podem nem ter visto. E com uma intervenção mais rápida, poderemos sanar aquele problema.”