Os 107 anos da instituição do Dia Internacional da Mulher em 8 de março serão celebrados em diferentes partes do mundo em 2017 com a greve geral das mulheres. Não sem razão. A ideia central é usar a greve como ferramenta política para visibilizar demandas cruciais e dizer ao mundo que exigimos mudanças!
(O Tempo, 21/02/2017 – acesse no site de origem)
O Dia Internacional da Mulher foi proposto em 1910, na 2ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, organizada por Clara Zetkin (1857-1933) e Rosa Luxemburgo (1871-1919), tendo como eixo da luta pela emancipação feminina a igualdade de oportunidades no trabalho e na vida social e política – aspirações ainda atuais, tanto que a greve geral das mulheres defende “um feminismo mais amplo, que seja antirracista, anti-imperialista, ‘anti-heterossexista’ e antineoliberal, ao mesmo tempo que faça uma luta que não secundarize as pautas das mulheres negras, pobres, lésbicas, trans e queers”.
Via de regra, o mundo é hostil com as mulheres. O ranking do Fórum Social Mundial de 2015 informa que a Islândia é um dos melhores países do mundo para ser mulher, conquista alcançada a partir do Dia Livre das Mulheres islandesas em 24 de outubro de 1975, “dia em que 90% da população feminina deixou de trabalhar, fazer tarefas domésticas e cuidar dos filhos”.
Outro exemplo vem da Polônia, cuja legislação sobre aborto é de 1933; considerada uma das mais restritivas da Europa, “só permite a interrupção da gravidez em caso de estupro ou incesto, quando representa um risco para a saúde da mãe e quando o feto apresenta malformação grave”; e o Parlamento, com o apoio ostensivo da Igreja Católica, pretendia restringir ainda mais! Em 3 de outubro de 2016, as mulheres, vestidas de preto, decretaram greve, não apenas em Varsóvia, mas em muitas cidades. E em 6 de outubro saíram vitoriosas, pois o Parlamento arquivou a proposta de lei de proibição total do aborto!
Em 21 de janeiro passado, cerca de 500 mil pessoas protestaram na marcha das mulheres em Washington, e milhares de outras marcharam em diferentes cidades norte-americanas e do mundo contra a eleição de Trump e sua agenda conservadora. Estima-se que mais de 3 milhões de pessoas marcharam! Para Douglas McAdam, da Universidade Stanford e pesquisador de movimentos sociais nos EUA desde a década de 70, “historicamente, o poder de movimentos sociais deriva de sua capacidade de perturbar a normalidade. Eles ainda podem fazer isso, mas marchas como as que vimos naquele sábado não perturbam – elas servem mais para expressar valores e, nesse sentido, podem ser úteis para o movimento”.
O sucesso da marcha das estadunidenses, um dos maiores protestos da história dos EUA, deu fôlego para que o feminismo mundial paute com mais vigor a luta contra a misoginia e o conservadorismo. A ex-presidente Dilma Rousseff é uma entusiasta da greve geral de mulheres, vide trechos da convocatória feita por ela: “Nós, no Brasil, estamos em sintonia com os movimentos de mulheres que ocorrem em todo o mundo, como, por exemplo, o movimento Ni Una a Menos, na Argentina, e a convocação de Angela Davis e Nancy Fraser, para uma greve feminista, nos EUA… É preciso, por isso, que todas as mulheres de diferentes matrizes religiosas, opção política, diversidade sexual, negras, brancas, de todas as etnias, se juntem a esse movimento para reagir aos reflexos da política neoliberal que avança sobre a democracia e fortalece discriminações e preconceitos. Em todo o mundo, as mulheres têm assumido a liderança na luta contra a barbárie e mostram sua força e determinação”.