(Brasil 247, 27/06/2016) As diversas formas de participação das mulheres representam a diversidade das brasileiras.
Vale destacar aqui as ONGs feministas, tanto as mais antigas como as novas formas de participação das jovens feministas, como # Agora é que são elas, Partida feminista, Vadias, entre outras tantas.
A Marcha das Mulheres Negras em Brasília de caráter nacional explicitou e escancarou para toda a sociedade a submissão exploração e escravização imposta secularmente e que elas tem rompido com luta ao darem um basta a esta situação.
Assim também se apresentou em sua quinta edição, em Brasília a Marcha das Margaridas que trazem de três em três anos toda a situação das mulheres do campo da floresta e das águas para que a sociedade as veja, como, além de sujeitos de direitos, responsáveis pela produção de todos os alimentos que chegam as mesas das pessoas nas cidades.
São mulheres rompendo com as formas tradicionais de participação política redesenhando novas estratégias e pautando a sociedade brasileira contra o fundamentalismo patriarcal.
O cenário político hoje no Brasil nos remete a uma pergunta crucial e estruturante sobre o protagonismo das mulheres nas diferentes cenas políticas: na vigência de um golpe patriarcal, machista, sexista, capitalista, fundamentalista, mediático e parlamentar que retirou da presidência da República a primeira mulher eleita e reeleita com mais de 54 milhões de votos, como ficam os direitos conquistados e a cidadania das mulheres?
Os articuladores desse golpe em vigência são aparentemente ocultos, mas quem são eles? São homens brancos, ricos, violentos e vorazes que se explicitaram como estruturantes do patriarcado brasileiro que une gênero, raça e classe.
Desmontam as políticas sociais que sustentam a vida cotidiana, eliminam direitos civis, sociais e trabalhistas que garantem a cidadania e privatizam com a maior velocidade já vista todos os bens públicos.
A relação entre o patriarcado e o ultra liberalismo econômico se mostra com muito vigor no atual contexto golpista fascista, altamente explicitado pelo fundamentalismo do congresso nacional em especial da câmara dos deputados.
Faz-se necessário lembrar com muita ênfase que esse golpe, teve seu inicio com as manifestações de 2013 quando o capital que rege os envolvidos no golpe e a FIESP, aproveitaram e financiaram as manifestações de direita, conhecidas como dos e das “coxinh@s” e com a violência sexual explicitamente contra nossa Presidenta na abertura da Copa do Mundo em 2014, quando mandaram a Presidenta ” tomar no cu”.
Vieram as eleições, a vitória da Dilma e as milhares de ações tentando impugnar as eleições, repetindo o que Lacerda disse em relação a Getúlio:” se candilar não ganha, se ganhar não toma posse, se tomar posse não governa” e vimos à história se repetir, e de nossa parte perplexa, demos poucas respostas para a sociedade, uma vez que fomos obrigad@s a cotidianamente defender a Presidenta e o nosso governo.
Perguntamos como pode impactar na vida das brasileiras e brasileiros, principalmente na das mulheres o golpe em vigência com todas essas características elencadas.
O impacto maior sem dúvida alguma se dá no cotidiano da vida das mulheres com reflexos para toda a sociedade.
É necessário reafirmar que a autonomia das mulheres tem que ser garantida com políticas públicas que o governo da Presidenta Dilma priorizou: que é viver numa sociedade onde cada um e cada uma das pessoas exerçam o direito de ir e vir sem estar exposta a qualquer tipo de violência, discriminação e preconceitos.
Assim combatemos com firmeza a cultura patriarcal da violência e do estupro, em nossa sociedade desde os tempos da colonização.
Os governos Lula e Dilma sancionaram importantes marcos legais como a Lei Maria da Penha e sua implementação com o Programa Mulher viver sem Violência e a Lei do Feminicídio, que torna crime hediondo o estupro e altera paradigmaticamente no Código Penal a tipificação da morte de mulher por sua condição de mulher como feminicido e não homicídio.
Também a luta contra a homofobia, lesbofobia e transfobia que tem ceifado milhares de vidas que a atual legislatura na câmara federal com seu conservadorismo fundamentalista não possibilita aprovar nem uma ação que impeça essas barbaridades, ao contrário as instiga e incentiva.
As mulheres devem permanecer em alerta e em luta contra os retrocessos nas políticas do governo golpista: transformar a Secretaria de Políticas para as Mulheres em ´puxadinho” no Ministério da Justiça e criar um departamento de mulheres na Polícia Federal, significa a volta às trevas dos anos 70 quando todas as ações para o enfrentamento a violência contra as mulheres eram tratadas como caso de polícia.
Outro aspecto é nomear uma mulher para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que além de envolvida em esquema de corrupção, declarou ser contra o aborto nos casos legais, como gravidez decorrente de estupro.
Idade das trevas, fundamentalista onde a opinião e religião interferem na gestão das políticas. E para onde vão as mulheres estupradas, violentadas e massacradas.
Hoje temos políticas avançadas como o Mulher Viver sem Violência que tem como paradigma para ação, acolhimento, cuidado e a abertura de portas para o acesso aos mercados de trabalho, que possibilitam a mulher romper o ciclo da violência, conquistar sua autonomia e se libertar.
Temos também o Programa Pró-equidade de gênero e raça que com a adesão de grandes empresas busca construir boas práticas de gênero e raça que rompem com as discriminações e preconceitos no âmbito das organizações do trabalho.
Quero reforçar que não aceitaremos nenhuma perda de direitos, em especial com os direitos sexuais e reprodutivos que ainda temos muito que avançar.
São mulheres redesenhando as formas tradicionais de participação política e pautando a sociedade brasileira contra o fundamentalismo patriarcal golpista e mediático.
Na resistência contra a efetivação do golpe, as mulheres tem assumido um protagonismo fundamental. Estão nas ruas, nas cidades, no campo, na floresta e em todos os lugares, porque sabem o que significou ter direitos de ir e vir acesso às oportunidades, cidadania.
E sabem também o que pode transformar nossa democracia num sistema fascista onde todos os direitos conquistados são rompidos com a imposição da cultura do medo.
Os movimentos feministas e de mulheres tem levado uma luta intensa por uma reforma do sistema político, tendo um dos pontos principais à lista paritária de gênero estruturante da democratização desse sistema. Tal defesa implica como disse Àvila(16) ” superação do caráter hierárquico dos partidos políticos e da mercantilização dos processos eleitorais ”
Não há sociedade democrática sem equidade de gênero.
Quero terminar reafirmando enfaticamente que nesse momento os movimentos sociais do campo e da cidade se mobilizam, resistem e lutam contra o golpe e em especial o movimento feminista e de mulheres enquanto sujeito político estruturante das lutas pela democracia.
O feminismo mostra sua criatividade, sua força e capacidade de resistência radical em defesa do mandato da primeira mulher eleita e reeleita Presidenta da República do Brasil.
É um confronto com o patriarcado incontornável para resgatar o mandato da presidenta Dilma Rousseff, com afirmação de uma agenda política e social voltada para a superação das desigualdades sociais e garantias de to dos os direitos individuais, civis, sociais, econômicos, culturais.
As mulheres estão seguras dessa resistência e reafirmam a importância dos instrumentos institucionais que garantam seu protagonismo no âmbito do executivo.
Eu e minha geração que viveu o golpe de 1964, conhecemos as barbaridades sofridas pelas torturas e sabemos que o golpe de hoje se apresenta como muito perigoso pela sua forma dissimulada e fascista: entrando o dia inteiro nas casas das pessoas pelas TV s com informações seletivas e distorcidas.
Juntas somos milhões de mulheres resistentes dizendo Não ao golpe, volta Dilma e fora Temer.
Acesse no site de origem: Como o golpe em curso impacta na vida das mulheres, por Eleonora Menicucci (Brasil 247, 27/06/2016)