Igualdade de gênero é sobre direitos e oportunidades iguais pra homens e mulheres.
(HuffPost Brasil, 16/11/2016 – acesse no site de origem)
Pra chegar lá, temos um caminho longo, que passa por desafiarmos estereótipos – do que é ser homem e ser mulher – que influenciaram nossas vidas inteiras e ainda influenciam a vida das crianças ao nosso redor.
Então, aí vão algumas coisas que você e as crianças precisam saber sobre igualdade de gênero:
1. Não existe brinquedo de menino ou de menina, coisa de menino ou de menina
Aprendemos, desde cedo, que existem atividades de menino e outras de menina. Ballet é coisa de menina enquanto futebol é coisa de menino. Brincar de boneca e casinha é coisa de menina, enquanto brincar de carrinho e de luta é coisa de menino.
Não à toa temos mais homens nas ciências matemáticas. Nos EUA, eles representam 74% da força de trabalho em campos ligados à ciência, tecnologia, engenharia e matemática segundo a U.S. census bureau statistics, 2011. No Brasil, o número é parecido: 70% de homens nas áreas de exatas segundo o CNPq. Em paralelo, vemos muito mais mulheres nas áreas de cuidado, como professoras, enfermeiras, babás e cuidadoras, por exemplo.
Não é porque fazer contas é uma habilidade masculina e cuidar é uma habilidade feminina. É muito mais simples: desenvolvemos o que exercitamos, o que praticamos.
As crianças vão desenvolver as habilidades que praticarem, que colocarem à prova. Por isso, é extremamente limitante que elas não possam navegar por diferentes áreas e possibilidades.
2. Nem todo homem é forte e nem toda menina é delicada
Conectamos, o tempo todo, certos adjetivos, qualidades e características a homens e mulheres, meninos e meninas.
A noção dominante de masculinidade está ligada à força, violência, brutalidade, virilidade, poder, entre outras coisas. De outro lado, a de feminilidade tem a ver com gentileza, cuidado, delicadeza e amor.
Meninos e meninas que desafiam essas noções e expressam características incompatíveis com sua categoria de gênero sofrem em casa, na escola e muitas vezes são alvo de violência.
Nem todo homem cabe na caixinha apertada do que se entende por masculino. O mesmo é válido pras mulheres. E isso não tem nada a ver com orientação sexual.
3. Sexo, gênero e orientação sexual não são a mesma coisa
Em pleno século 21 e ainda confundimos sexo, gênero e orientação sexual.
Uma explicação rápida: o sexo é biológico. Tem a ver com o aparelho reprodutor – feminino ou masculino. É fixo, nasce com a gente. Já o gênero é uma distinção social: me entendo como homem ou como mulher, independente do meu sexo. Faz referência a como nos reconhecemos dentro dos padrões estabelecidos socialmente. Orientação sexual tem a ver com as relações, as inclinações romântico-afetivas. Esse vídeo aqui, da Comum com a Carol Patrocínio, conta a diferença de um jeito bem didático.
Se a gente entende a diferença, consegue quebrar vários preconceitos e paradigmas ligados ao assunto, consegue aceitar melhor as diferenças, se libertar e libertar pessoas ao nosso redor.
4. Meninos e meninas devem ter autonomia sobre seus corpos
Precisamos ensinar para as crianças que seus corpos são delas, em todos os sentidos: para ter cuidado e carinho, para exercitar e explorar, e como meio de autonomia e liberdade. Esse é um recado especialmente importante pras meninas.
Quando forçamos as crianças a darem beijos ou afeto a pessoas conhecidas ou desconhecidas, por exemplo, damos um recado sutil de que elas que elas devem responder emocionalmente e fisicamente de forma a agradar os outros, pra serem educadas.
As crianças precisam aprender que afeto e intimidade estão sob controle delas, e elas não devem fazer nada por obrigação – só porque o pai pediu ou as convenções sociais pregam. Se o corpo delas é delas, não deve haver exceções.
5. Tarefas domésticas são tarefas como quaisquer outras e devem ser compartilhadas por homens e mulheres
Desde cedo, estimulamos a segregação de papéis entre homens e mulheres. As meninas cuidam dos nenêns, que inclusive são fabricados para elas e só falam “mamãe” ao serem apertados. Elas brincam de varrer o chão e cozinhar papinha. Já um menino não pode nem chegar perto de uma boneca: é alarde na família, na certa.
As crianças também seguem exemplos: se é a mãe que exerce as tarefas de cuidado em casa e o pai trabalha fora, é dessa forma que elas vão compreender o mundo e as atribuições de cada gênero.
Precisamos estimular que meninos e meninas façam todo o tipo de atividade dentro e fora de casa. Só assim teremos mulheres mais autônomas em suas profissões e homens que desempenham a paternidade e funções domésticas normalmente, como algo quotidiano.
Desafio da Igualdade: o que você pode fazer pela igualdade de gênero na infância?
Esse precisa ser um assunto vivo em toda a comunidade educadora, em todos nós.
A Plan Internacional, ONG inglesa com foco em crianças e adolescentes, está lançando o Desafio da Igualdade, pra abordar igualdade de gênero na educação de crianças e incentivar os educadores a olhar pro assunto e promover a igualdade na educação.
Pra quem está em São Paulo, no dia 22.11, terça-feira, vai ter um evento sobre o tema lá no B_arco Centro Cultural, na Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, n. 426, Pinheiros, às 19:30h, com um papo com especialistas e lançamento de um kit de materiais que promove a abordagem do tema na escola. Os materiais vão ficar disponíveis pra download gratuito no site da Plan.
O evento no facebook está aqui, e pra confirmar participação tem esse formulário aqui. Inscrições gratuitas.
Então, fica a pergunta: o que você pode fazer pela igualdade de gênero na infância?
Só assim – educando pra igualdade – conseguiremos diminuir a distância entre homens e mulheres nas próximas gerações.
Vamos juntos.