“Álcool em gel? Minha casa alaga pelo ralo”, diz a produtora cultural Luana Almeida

19 de março, 2020

A produtora cultural Luana Almeida, de 24 anos, mora na União de Vila Nova, bairro no distrito da Vila Jacuí, no extremo leste de São Paulo. Está a quase 30 quilômetros do centro da capital paulista. A distância é menor para Guarulhos e o aeroporto de Cumbica – quase 15 quilômetros. Por isso, o bairro pertencia ao município vizinho à capital. Na década de 1970, as obras que alteraram o curso do rio Tietê mudaram também o limite entre as cidades e, a partir daí, a região ficou em uma espécie de limbo da administração pública. Passou a pertencer a São Paulo, mas a população não tinha na prática a quem recorrer. Em 2009, a região foi incluída na jurisdição da Subprefeitura de São Miguel, mas o abandono é reiterado todos os anos, com enchentes que inundam o bairro inteiro. Não à toa, a área é conhecida como Pantanal.

(Piauí, 19/03/2020 – acesse na íntegra no site de origem)

Da casa dela até a avenida Faria Lima, zona nobre de São Paulo, o trajeto leva uma hora e vinte minutos. Mas a distância social é muito maior. A taxa de mortalidade infantil na Vila Jacuí é décima mais alta da cidade, entre 96 distritos, segundo dados de 2018 da prefeitura. Naquele ano, Vila Jacuí teve seis vezes mais mortes de crianças menores de um ano por mil nascidos vivos que na Consolação, na região central: 14,8 contra 2,5. A pandemia do novo coronavírus evidencia o cordão que separa o Pantanal do centro expandido, mas não isola seus moradores dos riscos de contaminação e mostra como o combate à doença em áreas assim enfrenta dificuldades extras. Luana conta como as notícias do Covid-19 chegaram à Vila Jacuí na última sexta-feira, 13 de março. Até ali, havia 107 casos confirmados no Brasil e 130 mil no mundo. A pedido da piauí, Luana vai acompanhar a rotina de sua comunidade durante a pandemia. E descrever se percepções, temores e prioridades mudarão ao longo do tempo.

Em depoimento a Thais Bilenky

Aqui na quebrada, as coisas chegam atrasadas ou não chegam. Na sexta-feira à tarde, eu estava na perua da Vila, perua lotada, porque só tem uma perua aqui, que vai pra Itaquera. E um ônibus que vai para o Parque Dom Pedro. Só. São os únicos meios de transporte público que temos. Até sexta-feira (13 de março) à tarde, estava tudo normal. Não era um assunto falado aqui na Vila. Tenho certeza de que não começou a se falar do corona na sexta-feira [em outros lugares]. Mas aqui, sim, sexta-feira à noite. Como é que chega? Sempre quem traz a informação é o jornal televisionado. Não tem outra forma. Na internet, se eu for ver minha timeline, as pessoas estão lidando com isso com meme, está tudo muito engraçado. São raros os textões informativos. E as pessoas que eu vejo compartilhando informação não são pessoas da Vila. Até o que as pessoas daqui compartilham nas redes é diferente. A rede social não é um lugar seguro como fonte de informação.

Aí, na sexta-feira, quando passou o primeiro jornal, o SPTV [da Rede Globo], só se falava nisso. Mas na minha bolha, porque eu trabalho com cultura, tenho um corre independente, uma rede que é outra, mesmo morando na quebrada. Eu vou na quitanda da Zélia, vou no mercadinho da Andressa. Não era uma coisa que estava sendo falada.

[…]

Leia na íntegra no site de Piauí

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