(Agência Brasil, 06/10/2014) Com cerca de 1 milhão de cirurgias cesarianas por ano, o Brasil lidera o ranking mundial em número desse tipo de cirurgia, aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a pesquisa Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, feita de 2011 a 2012 pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram entrevistadas 23.940 mulheres em maternidades públicas, privadas e mistas e 52% delas relataram que passaram por cesarianas.
No setor privado, o percentual de crianças que nasceram por cesáreas chega a 88%. A pesquisa aponta ainda o alto número de cesáreas em adolescentes (42%). Para tentar reverter o quadro, a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz promove, pela primeira vez no Brasil, a conferência internacional Parto Normal e Nascimento.
A conferência ocorre desde 2002 no Reino Unido para debater o trabalho de parto e o parto normal e, em 2010, passou a ser organizada também fora da Inglaterra. O primeiro país estrangeiro a receber o evento foi o Canadá, seguindo da China, em 2012.
A primeira parte da conferência ocorrerá de 10 a 13 deste mês, em Búzios, na Região dos Lagos, mas será fechada ao público. Uma segunda conferência, aberta, ocorrerá no Rio de Janeiro, entre os dias 14 e 16. As inscrições para a segunda etapa se encerrarão no dia 9.
De acordo com a epidemiologista Maria do Carmo Leal, da ENSP/Fiocruz, que pesquisa sobre saúde da criança, da mulher e de adolescentes, a ideia é “socializar as oportunidades de troca e de aprendizado” e debater sobre o parto “que seja comandado pela mulher e que tenha bom resultado obstétrico”. Serão discutidas práticas desenvolvidas por profissionais que englobam a atenção ao parto, o nascimento e a atenção à criança nos primeiros anos de vida.
Para a médica, que participou do evento há seis anos na Inglaterra, a reflexão é importante, pois o Brasil está focado “em intervenções, muitas vezes desnecessárias”, lembrando que estudos apontam que a indicação da cesariana não deve superar 15%.
Segundo a médica da ENSP, estudos indicam que “não se precisa mais de 15% de cesáreas”. Maria do Carmo Leal disse que a intervenção desnecessária pode trazer risco para a mãe e o bebê, como problemas respiratórios no recém-nascido ou infecção na mulher, conforme apontam estudos. Quando a cesárea é indicada, esses riscos diminuem. “O problema é quando ela não é recomendada”, disse. “Ela [mulher] fica com uma cicatriz no útero e nas próximas gestações tem maior risco de ter uma implantação baixa e inadequada da placenta, ter sangramento”, avalia a médica.
Alana Granda
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