Brasil tem segunda maior taxa de intervenções durante o parto, com mais da metade dos nascimentos ocorrendo por meio de cesáreas
(O Estado de S. Paulo, 15/02/2018 – acesse no site de origem)
Num esforço para reduzir o número de cesáreas praticadas no mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou nesta quinta-feira, 15, novas recomendações sobre padrões de tratamento e cuidados relacionados a mulheres grávidas. O objetivo é reduzir “intervenções médicas desnecessárias”.
De acordo com a OMS, 140 milhões de nascimentos ocorrem no mundo a cada ano. A maioria sem complicações. “Ainda assim, nos últimos 20 anos, médicos aumentaram o uso de intervenções que eram destinadas antes apenas para evitar riscos e tratar complicações, com a infusão de oxytocin para acelerar o parto ou cesáreas”, indicou a OMS.
“A crescente medicalização de um processo normal de nascimento está minando a capacidade das mulheres de dar a luz e impactando de forma negativa sua experiência no nascimento”, afirmou Nothemba Simelela, diretora-geral assistente da OMS. Para ela, não há necessidades de receber intervenções adicionais para acelerar o parto se mãe e filho estiverem em boas condições.
A entidade alerta que, nos últimos anos, uma “proporção substancial” de grávidas saudáveis foi alvo de pelo menos uma intervenção durante um parto.
Com dados de 2016, a OMS aponta o Brasil como um dos líderes em cesáreas no mundo e alerta que o aumento nas práticas em partos se transformou em uma “epidemia”. A entidade estima que a taxa média mundial de cesáreas seria de 18,6% dos partos. Em 1990, esse índice era de apenas 6%.
Em média, a taxa de cesáreas hoje na Europa é de 25%, contra 15% há 20 anos. Já nos EUA, a taxa é de 32,8%. No Brasil, os dados de 2016 mostram que 55,6% dos partos no País foram cesáreas, a segunda maior taxa do mundo, superada apenas pela da República Dominicana, com 56%.
Medidas
Na esperança de reverter a situação ou pelo menos frear o aumento de casos, 56 medidas foram anunciadas pela entidade. Elas incluem uma melhor comunicação entre médicos e as mães, permitir que sejam as mulheres que também possam opinar sobre sua administração da dor durante o processo de dilatação e posições para o parto.
Um dos aspectos centrais da recomendação é a de reconhecer que cada parto é “único” e tem um ritmo diferente. Cada grávida, portanto, deve ser informada que não existe um padrão a ser respeitado, ainda que em geral um prazo máximo possa ser estabelecido.
“A duração do primeiro estágio varia de mulher para mulher e, no caso de um primeiro parto, não se estende além de doze horas”, aponta. “Em fases seguintes, ele não ultrapassa dez horas de trabalho de parto”, explica.
Para reduzir intervenções médicas desnecessárias, a OMS agora alerta que a dilatação cervical precisa ser repensada. O ritmo de 1 cm por hora de dilatação na primeira fase do trabalho de parto – padrão usado para medir o progresso do caso – seria “irrealista” para algumas mulheres e poderia ser “inexato para identificar mulheres sob risco”.
Pelas novas recomendações da OMS, uma taxa de dilatação mais lenta não deve ser um indicador de rotina para determinar se uma intervenção deve ou não ocorrer para acelerar o trabalho de parto.
Na avaliação da agência de saúde da ONU, é o envolvimento da mulher nas decisões do trabalho de parto que poderia mudar essa realidade. Entre as recomendações, a entidade pede que médicos informem as mulheres sobre a duração do parto.
Recursos
Para a OMS, as intervenções médicas em trabalhos de parto estão “generalizadas” em muitos países. Mas isso coloca uma pressão extra nos serviços de saúde e aprofundariam ainda mais a disparidade nos tratamentos.
Na avaliação da entidade, uma redução no número de cesáreas desnecessárias liberaria recursos para casos em que o risco é real. Enquanto o número de cesáreas e parto com hora marcada aumenta, a entidade destaca que 830 mulheres morrem diariamente ao dar à luz. “Isso poderia ser evitar com um cuidado de maior qualidade”, aponta.
Jamil Chade