Pesquisadores da Fiocruz e da Universidade da Califórnia (UCLA) descobriram que as anormalidades provocadas pelo vírus zika em bebês antes do nascimento são mais variadas e frequentes do que se acreditava. A pesquisa registrou problemas em 46% das 125 gestações analisadas. Dessas, 97 foram acompanhadas no Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). O estudo sugere que os danos fetais provocados pelo vírus zika podem ocorrer ao longo de toda a gravidez e são muito mais variados do que apenas a microcefalia. De acordo com a Agência Fiocruz, algumas anomalias só podem ser detectadas semanas ou meses após o bebê ter nascido, segundo a chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e uma das autoras do estudo, Patrícia Brasil.
(Extra, 15/12/2016 – acesse no site de origem)
– Um bebê aparentemente normal pode apresentar algum tipo de anormalidade não detectada em exames usuais de rotina. É muito importante saber isso, porque, quanto mais precoce for o diagnóstico, mais oportunas e efetivas poderão ser as medidas de intervenção que assegurem o melhor desenvolvimento dessas crianças – afirmou a pesquisadora, em entrevista à Agência Fiocruz.
O novo estudo, publicado no “New England Journal of Medicine”, foi baseado em uma amostra maior de 345 mulheres do Rio de Janeiro, que foram inscritas entre setembro de 2015 e maio de 2016. Dessas mulheres, 182 (53%) tiveram resultado positivo no teste para zika no sangue, na urina ou em ambos. Além disso, foi descoberto que 42% das mulheres que não tiveram zika estavam infectadas com chikungunya e que 3% das mulheres com zika também foram infectadas por chikungunya.
Dessa amostra inicial, os pesquisadores avaliaram 125 mulheres infectadas por zika e 61 não infectadas com o vírus que haviam dado à luz até julho de 2016. Este é o maior estudo até aqui a acompanhar mulheres desde o momento da infecção até o fim da gravidez.
No período da pesquisa, ocorreram nove mortes fetais em mulheres com zika durante a gravidez. Dentre essas, cinco foram no primeiro trimestre de gestação. As mortes fetais ou anormalidades em bebês foram verificadas em 46% dos casos de gestações de mães que testaram positivo para zika, em contraste com 11,5% das mulheres que testaram negativo para zika. O estudo aponto também que 42% dos bebês que nasceram de mães infectadas por zika tinham microcefalia, lesões cerebrais, calcificações cerebrais, lesões na retina, surdez, dificuldades para se alimentar, entre outras complicações. Os problemas foram verificados em todas as etapas da gravidez: 55% das mulheres infectadas no primeiro trimestre foram afetadas, 51% no segundo e 29% no terceiro.
A síndrome da zika congênita
Para o coautor do estudo e gerente da Área de Atenção Clínico-cirúrgica à Gestante do IFF, José Paulo Pereira Júnior, a nova pesquisa apontou que a microcefalia é apenas uma parte do espectro do que atualmente é chamado de síndrome da zika congênita:
– Com o aumento da amostra, identificamos que outras alterações, tão importantes quanto a microcefalia, estão sendo observadas em uma parcela considerável das gestantes expostas ao vírus.
Ele destaca ainda a importância do estabelecimento de um protocolo específico para acompanhamento dessas pacientes durante o pré-natal e também no momento do parto.
– O parto normal pode e deve ser indicado em casos de diagnóstico de microcefalia, em que o bebê esteja hemodinamicamente estável – explica o obstetra – disse, em entrevista à Angência Fiocruz.
A professora de pediatria clínica da Divisão de Doenças Pediátricas Infecciosas da Escola de Medicina da UCLA e também autora do estudo, Karim Nielsen, definiu os resultados do estudo como “graves”:
– Descobrimos que a microcefalia não é a alteração congênita mais comum do vírus zika e que a ausência dessa condição não significa que você teve um bebê normal. Há muitos problemas que não são aparentes no nascimento. Os recém-nascidos podem parecer normais, mas não o serem aos seis meses, e há toda uma vasta gama de problemas.