(Portal Brasil, 09/05/2016) O primeiro registro de transmissão da linhagem asiática do vírus chikungunya ocorreu em setembro de 2014, no Amapá.
A edição de maio da revista “Memórias” do Instituto Oswaldo Cruz apresenta entre os destaques um estudo sobre as características genéticas do vírus chikungunya de viajantes que chegaram ao Rio de Janeiro entre 2014 e 2015. A análise realizada por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) apontou a presença da linhagem asiática do vírus, indicando oito pontos de variação no genoma viral em um dos pacientes.
Outro estudo em destaque revela detalhes sobre os danos provocados pelo zika vírus na placenta de mulheres infectadas em diferentes períodos da gestação.
A publicação traz também um artigo que mostra a ampla disseminação da resistência a um larvicida entre as larvas do Aedes aegypti. A edição de maio da publicação Memória reúne, ao todo, dez artigos e pode ser acessada gratuitamente on-line.
Chikungunya em viajantes
Uma pesquisa sobre características genéticas das cepas do vírus chikungunya isoladas de quatro viajantes que desembarcaram no Rio de Janeiro entre 2014 e 2015 reforça a importância desse tipo de monitoramento em ações de vigilância de doenças emergentes, aponta a Fiocruz. A análise identificou que os pacientes, com histórico de viagem para o Caribe, eram portadores de vírus da linhagem asiática.
O sequenciamento do genoma completo de um dos patógenos indicou semelhança de 97% a 99% com outras cepas da mesma linhagem isoladas de pacientes em diferentes países das Américas entre 2013 e 2014. Ao todo, oito pontos de variação no genoma foram identificados.
Segundo os autores, a linhagem asiática do vírus chikungunya foi a primeira a provocar casos da doença no continente americano. Em dezembro de 2013, cepas dessa linhagem foram detectadas no Caribe e progressivamente se espalharam para diversos países da região. No Brasil, porém, tanto a linhagem asiática como a linhagem africana do vírus chikungunya passaram a circular em 2014.
O primeiro registro de transmissão da linhagem asiática ocorreu em setembro de 2014, no Amapá, possivelmente após a chegada de um viajante do Caribe. Já a linhagem africana foi detectada uma semana depois, na Bahia, provavelmente trazida por um paciente vindo de Angola. No Rio de Janeiro, casos autóctones da febre chikungunya – transmitidos localmente – começaram a ser registrados em dezembro de 2015 e é possível que as duas linhagens estejam em circulação desde então.
De acordo com os cientistas, o cenário reforça a importância do monitoramento das características genéticas das cepas trazidas por viajantes, que podem introduzir mutações ainda não encontradas no País.
Danos associados ao zika vírus
Um estudo que analisa cinco casos de gestantes infectadas pelo zika vírus avaliou os danos provocados na placenta em diferentes fases da gestação. Seguindo a política de divulgação imediata de dados científicos sobre o tema, o artigo foi publicado no Zika Fast Track da revista Memórias, no dia 8 de março e incluído na edição de maio da publicação após o processo de revisão por pares. A pesquisa foi realizada pelo Instituto Carlos Chagas (Fiocruz-Paraná) em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A pesquisa identificou, pela primeira vez, sinais de imaturidade placentária e de inflamação do tipo TORCH (sigla que reúne outras infecções associadas a malformações congênitas, como toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus). Os problemas foram verificados em quatro pacientes infectadas no primeiro trimestre da gravidez. Uma delas sofreu aborto espontâneo na oitava semana da gestação e as outras três deram à luz bebês com microcefalia, que morreram pouco depois de nascer. Em todos os casos, o material genético do zika vírus foi encontrado tanto na placenta das gestantes como nos cérebros dos bebês.
O quinto caso investigado na pesquisa envolveu uma mulher infectada no oitavo mês de gestação que deu à luz um bebê saudável. Embora o zika vírus tenha sido encontrado na placenta da gestante, o bebê não foi infectado. Para os autores, ainda que a análise tenha contemplado um número reduzido de casos, os resultados indicam que a infecção no primeiro trimestre pode estar mais diretamente associada às malformações congênitas. A principal hipótese é que nas fases mais avançadas da gravidez, a placenta tenha maturidade suficiente para impedir a transmissão do zika vírus da mãe para o feto.
Resistência à larvicida mapeada
Um dos produtos mais usados no mundo por aliar alta eficácia, baixo custo e baixa toxicidade, o larvicida temefós começou a ser aplicado rotineiramente no Brasil nos anos 1980. No entanto, em 2010, seu uso precisou ser suprimido por causa do aumento da resistência das larvas do Aedes aegypti.
Com base em dados coletados ao longo de 12 anos, pesquisadores produziram mapas que mostram como o fenômeno de resistência ao produto se espalhou no País entre 1999 e 2012. O monitoramento da resistência abrangeu 147 cidades e ferramentas de estatística espacial foram utilizadas para produzir os mapas nacionais.
O estudo observou que, entre 1999 e 2000, a sensibilidade das larvas ao produto era alta, com focos de resistência localizados na faixa litorânea entre o Norte e o Nordeste e no entorno do Rio de Janeiro. Já em 2004 e 2005, mais da metade do Brasil tinha níveis de resistência suficientes para prejudicar a eficácia do temefós. Por fim, em 2010 e 2011, a resistência tinha alcançado quase todos os Estados, com exceções em Rondônia, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
De acordo com os pesquisadores, os dados apontam que a resistência a inseticidas pode progredir de forma rápida, reforçando a necessidade de estratégias para reduzir a ocorrência do fenômeno e de monitoramento constante para garantir a efetividade do controle do Aedes aegypti.
A pesquisa teve como base dados reunidos pela Rede Nacional de Monitoramento de Resistência do Aedes aegypti a Inseticidas (MoReNAa) sob tutela do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde. Participaram a Universidade Federal de Viçosa, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE), o Ministério da Saúde, as secretarias municipais de Saúde de Belo e de São Domingos do Prata (MG) e as secretarias estaduais de Saúde do Ceará e de São Paulo.
Fonte: Portal Brasil, com informações da Fiocruz
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