(O Estado de S. Paulo, 01/07/2016) Processo foi aberto depois que a organização recebeu dados do Brasil sobre a presença de outro vírus em fetos infectados pelo zika.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) abriu investigações para examinar as evidências apresentadas pelo Brasil em relação a novos fatores que poderiam explicar os casos de microcefalia, ligados ao vírus da zika. Os estudos enviados pelo Ministério da Saúde estão sendo avaliados por especialistas e autoridades para que respostas possam ser encontradas, no que está sendo considerado internamente pela entidade internacional como uma “nova pista” do impacto da doença.
Pesquisadores brasileiros encontraram em amostras de fetos com microcefalia provocada por zika traços de um outro vírus, o BVDV, um agente que até hoje se imaginava afetar rebanhos animais, como bovinos.
Os indícios, embora ainda tenham de ser comprovados com testes mais específicos, foram considerados relevantes pelos cientistas. Por precaução, eles comunicaram o Ministério da Saúde antes mesmo da publicação do trabalho em revista científica, em reunião de emergência feita na semana passada.
A pesquisa foi feita por integrantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (IPESQ). Diante das suspeitas, uma série de medidas foi adotada, entre elas a comunicação à agência mundial.
“Fomos informados sobre esses resultados preliminares”, informou a OMS, em um comunicado enviado ao Estado. “Estamos levando a sério a questão, ainda que tenhamos muitas perguntas sobre as descobertas que ainda não foram respondidas” , indicou a entidade.
A OMS, porém, promete mergulhar no assunto, diante do que parece ser uma pista importante. “Estamos trabalhando com especialistas relevantes e com autoridades para encontrar respostas”, disse a agência de saúde da ONU.
A OMS também promete, assim que os resultados forem encontrados, disseminar a informação. Dentro da organização, grupos de especialistas tem alertado nos últimos meses de que existia a suspeita crescente de que a microcefalia poderia estar associada a mais de um vírus, além do zika. Testes relacionados com vários cenários chegaram a ser feitos, inclusive com suspeitas de uso de fertilizantes. Até o momento, porém, nenhuma resposta convincente foi descoberta.
Em junho, a OMS reforçou a necessidade, em uma reunião de especialistas, de criar um plano de trabalho até 2017 para permitir que a pesquisa no setor seja incrementada, justamente para cruzar informações e realizar estudos sobre o impacto de outras doenças e vírus combinados com o zika.
Um dos obstáculos, porém, tem sido a falta de recursos e doadores pouco solidários com a operação. A esperança agora de Margaret Chan, diretora da entidade, é de mobilizar governos e especialistas para que respostas comecem a ser encontradas.
Esse foi, segundo a OMS, um dos motivos que levou a entidade a declarar o vírus da zika, e não apenas a microcefalia, como uma emergência internacional.
No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde foi reforçar os estudos relacionados à suspeita. A partir de agora, técnicos da Fundação Oswaldo Cruz deverão se juntar à força-tarefa formada para tentar encontrar mais pistas sobre a eventual relação entre o BVDV e o surto de microcefalia no Nordeste brasileiro.
Integrantes do instituto vão participar de duas frentes: pesquisas laboratoriais e trabalho em campo, nas cidades onde há maior número de bebês com microcefalia. A ideia é identificar situações de risco em comum entre as famílias dos bebês.
Jamil Chade e Lígia Formenti – O Estado de S. Paulo
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