(Uol, 17/06/2016) Pesquisadores brasileiros e ingleses concluíram nesta quinta-feira (16) a coleta de 1.200 amostras de sangue de pacientes de seis Estados para um estudo inédito do genoma do vírus da zika. O projeto-piloto vai realizar agora um mapeamento genético completo do vírus, que deve ter resultados até o final de julho.
Com a análise do sangue coletado será possível saber a origem, entender as mutações ocorridas desde sua chegada e determinar, por exemplo, relações entre o vírus que circula no Brasil e os problemas neurológicos detectados, como a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré.
Por quinze dias (entre os dias 2 e 16 de junho), o laboratório móvel de análise genômica visitou cinco Estados do Nordeste: Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia. Além disso, também recebeu coletas de sangue do Mato Grosso.
Segundo o pesquisador da Fiocruz e um dos coordenadores do projeto, Luiz Alcântara, o vírus foi detectado em 12% das 1.200 amostras coletadas, que vieram, na maioria dos casos, de laboratórios estaduais e foram colhidas de pacientes que tiveram exame clínico conclusivo de doença com exantemas (manchas vermelhas no corpo) e suspeita de zika.
“Essas coletas foram feitas em pacientes apenas pelo perfil clínico, sem diagnóstico molecular. Os laboratórios centrais dos Estados ainda não têm como fazer esse diagnóstico molecular. Eles colhem o sangue e enviam para o Instituto Evandro Chagas, no Pará, que não consegue atender a demanda”, disse.
O projeto Zibra (Zika in Brasil Real Time Analysis, ou análises em tempo real do vírus da zika no Brasil, em tradução livre) é uma parceria entre Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Bahia, Instituto Evandro Chagas, Ministério da Saúde e duas universidades do Reino Unido. Pesquisadores australianos e dos Estados Unidos também colaboram.
As primeiras conclusões serão apresentadas nesta sexta-feira (17) a especialistas durante simpósio internacional em Salvador, mas o pesquisador da Fiocruz já adiantou que o vírus que circula no Brasil agrupa-se com os identificados na Ásia, embora forme um grupo diferente.
Agora estamos estudando a genética viral para entender a dispersão do vírus e saber se tem alguma alteração dessa sequência que explique a microcefalia e outras sequelas neurológicas
Vírus mutante
O professor de doenças infecciosas da Universidade de Oxford Nuno Faria, que também coordena a pesquisa, ressalta que o volume do material compilado também deve ajudar a conhecer melhor o vírus, conhecido por suas rápidas e constantes mudanças genéticas.
“Se tivermos amostras de pacientes infectados no mesmo dia, num mesmo lugar, podemos ter um vírus igual. Mas se foram colhidas com um mês de diferença ou em outro local é mais garantido que vamos encontrar mutações em relação ao vírus”, explicou.
Segundo Faria, as mudanças nem sempre significam um vírus mais perigoso, mas demonstram uma capacidade comum aos vírus de se adaptar a novos ambientes. “Muitas dessas mudanças são deletérias, ou seja, como não vão servir para o vírus e serão eliminadas. Em questão de tempo, só ficarão as vantajosas. Ainda não sabemos exatamente como são essas mutações”, disse.
Difundir testes rápidos
Os pesquisadores usam o minION, um aparelho criado por uma empresa da universidade inglesa de Oxford, que faz o diagnóstico e sequenciamento do vírus da zika. Um dos objetivos do projeto é difundir o aparelho em larga escala e treinar pessoas para usá-lo permitindo que os laboratórios estaduais façam testes rápidos de zika.
“É um aparelho barato, que custa US$ 1.000. Vamos mostrar a importância dele aos laboratórios e ao Ministério para que seja comprado”, disse Alcântara.
Carlos Madeiro
Colaboração para o UOL, em Maceió
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