(Uol, 24/05/2016) Depois do surto de crianças com microcefalia no Nordeste, com 1.233 casos já confirmados, especialistas indicam que pode haver uma nova onda de bebês com malformações nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. Segundo Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, em maio tivemos mais pessoas infectadas com zika nessas regiões, e os nascimentos devem acontecer em outubro.
A situação se agrava ainda mais, segundo ele, pelo fato de o Ministério da Saúde ter trocado sua cúpula no novo governo do presidente interino, Michel Temer. O coordenador do Programa Nacional de Controle de Dengue, Giovanini Coelho, e o diretor de Doenças Transmissíveis do ministério, Cláudio Maierovitch, deixaram seus postos sem que haja substitutos em vista, o que preocupa os médicos. “A equipe do Ministério da Saúde, que era muito competente, mesmo com todas as críticas que podemos fazer a eles, que lidava com essa epidemia foi desmontada. Estamos sem condução.”
Segundo o ministério, enquanto as nomeações não acontecem, as diretorias, coordenações e projetos são encaminhados pelo corpo técnico que já participava das ações.
Número de casos de zika no Sudeste é alto
Segundo dados do Ministério da Saúde, até o início de maio a região Sudeste tinha 46.318 casos de pessoas infectadas pelo vírus da zika, o maior número, seguido pela região Nordeste, com 43 mil. No Centro-Oeste são 20.101; no Norte, 8.545 e no Sul, 2.197.
A epidemia de microcefalia aumenta 30 semanas após a epidemia de zika. Isso mostra que a região Sudeste e Centro-Oeste deve registrar um número significativo de microcéfalos entre outubro e novembro, quando as crianças começarem a nascer.”
Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses
E esses números ainda são uma estimativa porque consolidar um número exato de pessoas infectadas por zika ainda não é possível. O teste para diagnosticar a doença só funciona nos cinco ou seis primeiros dias de infecção, quando o vírus ainda circula no sangue; ou em até duas semanas do contágio, quando ele ainda está presente na urina. “Em São Paulo há um número crescente de casos, mas com o problema da sorologia, os números precisam ser vistos com cautela. Para diagnosticar a zika é necessário o teste de dengue, chikungunya. Descartados ambos, fica a possibilidade da zika”, explica Timerman.
Em alguns casos a doença não apresenta sintomas. Desta forma, a gestante não saberia se foi acometida pelo vírus no início da gravidez
Atualmente a região Sudeste tem 77 casos confirmados de microcefalia causados pela zika, enquanto o Centro-Oeste tem 36.
Dos casos notificados, pelo menos 9.892 gestantes estão com suspeita de infecção pelo vírus da zika em todo o país. Destas, 3.598 já tiveram o quadro confirmado após exames ou por estarem em uma região com a incidência de vários casos, o que indica a presença do vírus no local. “Devem surgir novos casos no Rio de Janeiro, pelo número de gestantes acometidas com a zika. Provavelmente no segundo semestre isso também deve ocorrer no Centro-Oeste”, explica Marco Aurélio Sáfadi, diretor do núcleo de estudos da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose.
Engravidar agora
Para Timerman o ideal é não engravidar agora. “Isso de que na região Sudeste não está circulando zika é uma falácia. O vírus está circulando aqui não sabemos a intensidade. No dia a dia, temos visto muitos casos de zika, chikungunya, com transmissão aqui em São Paulo”, afirma o médico.
No entanto, Sáfadi diz que a região Sudeste entrou em uma época do ano onde os riscos seriam menores. “Mesmo com as mudanças climáticas, o clima do Sudeste nesta época do ano não é propício para proliferação dos mosquitos. É possível pensar em uma gravidez agora. O risco é menor. Desde que usando repelente e seguindo todos os protocolos já instituídos”, explica.
Bia Souza
Do UOL, em São Paulo
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