(Jornal Nacional, 04/12/2014) Um estudo divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que desde o ano 2000 o Brasil não consegue reduzir o número de meninas que ficam grávidas com menos de 15 anos. E a gravidez precoce leva muitas delas a ter filhos em condições precárias e a abandonar a escola.
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Na maternidade ela era a mais novinha: mãe aos 12 anos de idade. O namoro precoce foi sem cuidados para evitar a gravidez.
“Eu nem lembrava de tomar remédio remédio, quando eu lembrava do remédio já era no outro dia”, conta a menina.
A bebê nasceu no sétimo mês de gestação. A jovem foi morar com a família do pai da criança, também adolescente. E a mudança de vida está exigindo mais dela.
“Vou ter que ter mais responsabilidade, eu vou ter que criar ela, tomar juízo”, diz a menina.
Em um hospital de Belo Horizonte, o médico responsável pelo atendimento a adolescentes reconhece o problema e as causas apontadas por um estudo que reúne informações do SUS.
“A gravidez na adolescência está relacionada com situação de pobreza, conforme mostra o estudos, com a questão de baixa escolaridade. Pode ser explicada por situação de violência doméstica. Muitas vezes a menina fica grávida como uma tentativa de sair de casa”, afirma o ginecologista Edson Borges.
Segundo o Ministério da Saúde, essas meninas fazem menos consultas de pré-natal do que deveriam porque escondem a gravidez e uma outra consequência comum é a evasão escolar.
“Desde o início do ano, na hora do intervalo, em conversas com os outros professores, a gente escutava: ‘Tal aluna ficou grávida, tal aluna está grávida’. E duas delas evadiram da escola”, diz a professora Emanuela Alves.
Na média, as brasileiras estão deixando para ter filhos mais tarde, depois dos 30 anos. O curioso é que na adolescência pouca coisa mudou. Entre as mais jovens, o número de partos se mantém praticamente o mesmo desde o ano 2000. A cada dia, no Brasil nascem 82 bebês de mães com menos de 15 anos de idade.
“O nosso investimento é trabalhar junto às escolas, trabalhar essas informações através das redes sociais, onde esse grupo cada vez acessa mais. Trabalhar essa questão de um acompanhamento dessa transição entre a criança e o adolescente poder ser acompanhada pelas unidades básicas de saúde”, defende o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Fausto Pereira dos Santos.
Uma escola optou por uma abordagem lúdica. Alunos de 13 e 14 anos são convidados para um desafio: cuidar de pintinhos como se fossem filhos.
“Eu aprendi, assim, que não é muito fácil não, ter um filho na idade nova, que dá muito trabalho. Não é muito fácil só pôr no mundo e criar, não”, conta a estudante Laura da Fonseca.
“Tem que ter tudo. Cuidar com carinho, ter amor e prevenir primeiro também”, afirma a estudante Kenedy de Oliveira.
O projeto inclui palestras sobre os riscos da gravidez precoce e a necessária aproximação com a família.
“Minha mãe nunca falou comigo porque o tanto que eu sou tímida, ela também é”, conta uma menina.
Dona Eliana acha que se tivesse falado mais claramente sobre métodos anticoncepcionais, a filha talvez não tivesse engravidado.
“Porque eu pensei que, de alguma maneira, que se eu falasse para ela, para usar, eu podaria estar, poderia estar concordando com ela em ter relação sexual. Quando eu olho para a barriga, é alegria também, mas eu sinto uma dor porque não era o momento certo dela estar grávida”, diz a dona de casa Eliana Caetano Cavalcante da Silva.
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