Mosquitos fêmeas passam zika para ovos e prole, diz estudo

30 de agosto, 2016

Pesquisa realizada em laboratório nos Estados Unidos sugere que controle do vírus por meio de inseticidas pode ser mais difícil do que se imaginava

(Estadão, 29/08/2016 – Acesse no site de origem)

Mosquitos fêmeas da espécie Aedes aegypti podem passar o vírus da zika para seus ovos e para a prole, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas americanos. Segundo os autores do estudo, a descoberta aumenta a importância da inclusão dos larvicidas como parte integral do esforço mundial para impedir o alastramento do vírus.

O estudo foi publicado nesta segunda-feira, 29, na revista científica American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. “As implicações da descoberta para o controle do vírus são claras”, de acordo com um dos autores do artigo, Robert Tesh, da Universidade do Texas em Galveston.

“Isso significa que o controle do mosquito é mais difícil do que se pensava, porque os inseticidas afetam os mosquitos adultos, mas normalmente não matam ovos e larvas. Assim, eles reduzirão a transmissão, mas não eliminarão o vírus”, afirmou Tesh.

“Desde que o vírus da zika se tornou uma emergência para a saúde pública global, a maior parte das pesquisas teve foco no vírus e em seus efeitos nos humanos. Há bem menos pesquisas sobre o vírus relacionado ao mosquito. Mas, se quisermos controlar a zika, também precisamos saber mais sobre o comportamento do vírus nesses insetos”, disse o cientista.

Para descobrir se os mosquitos fêmea contaminados com zika passam o vírus para sua prole, os cientistas injetaram o vírus em Aedes aegypti criados em laboratório. Os mosquitos foram alimentados e depois de uma semana puseram ovos.

Os pesquisadores coletaram e incubaram os ovos e então criaram as larvas até que emergissem mosquitos adultos. Ao examinar esses adultos, os cientistas descobriram que a cada 290 mosquitos, um estava contaminado com zika.

“A taxa pode parecer baixa. Mas, quando nós levamos em conta o número de mosquitos em uma comunidade urbana tropical, é provavelmente uma taxa alta o suficiente para permitir que alguns vírus persistam, mesmo quando os mosquitos adultos infectados são mortos”, disse Tesh.

Já se sabia que os mosquitos passam outros vírus para sua prole, incluindo a dengue e a febre amarela, ambos transmitidos também pelo Aedes aegypti. Os vírus do Oeste do Nilo e da encefalite de St. Louis também podem ser transmitidos para os ovos dos mosquitos do gênero Culex.

Os autores do novo estudo afirmam que a transmissão vertical – da fêmea para a prole – parece fornecer um mecanismo de sobrevivência para os vírus em meio a condições adversas, como períodos de baixas temperaturas nas regiões temperadas, em estações secas nas áreas tropicais, ou em áreas nas quais muitas pessoas se tornaram imunes graças a vacinações, ou infecções anteriores.

“Agora nós precisamos mostrar que a transmissão vertical ocorre também na natureza. Para fazer isso será preciso coletar larvas em áreas onde o vírus tem circulação ativa – como a América Latina, o Caribe ou Miami. Encontrar larvas infectadas em um pneu abandonado ou em um recipiente de água seria a evidência da transmissão vertical”, disse Tesh.

 

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