Mulheres e meninas sob ameaça no Congresso Nacional, por por Cristião Rosas, Jacqueline Pitanguy, José Henrique Torres, LusMarina Garcia e Maria Jose Rosado

Foto Fernando Frazão – Agência Brasil

Ato de mulheres pela defesa da legalização do aborto. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

16 de dezembro, 2024 UOL Congresso em Foco Por Cristião Rosas, Jacqueline Pitanguy, José Henrique Torres, LusMarina Garcia e Maria Jose Rosado

Os direitos reprodutivos das mulheres e meninas brasileiras estão sob a sombra de um grave retrocesso. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade da PEC 164/2012 que, na prática, impede as formas já previstas em lei para o abortamento e tem impacto em outras questões que afetam direitos de homens e mulheres, como a reprodução assistida e pesquisas com células tronco.

Com a decisão da CCJ, marcada por uma sessão turbulenta, a PEC 164, veementemente rejeitada pela sociedade em 2012, foi ressuscitada após 8 anos, coincidentemente quando se agudizam as evidências de um sangrento golpe de Estado no país de forma a desviar a atenção pública.

Nos dirigimos ao Congresso Nacional, enquanto um grupo de pessoas que, ao longo de suas vidas, tem pautado os princípios democráticos de pluralismo e a defesa dos direitos humanos como eixos norteadores de suas atividades profissionais e de sua atuação cívica.

Diversos em nossa formação, reunimo-nos no Fórum Direitos Reprodutivos e Democracia, com o propósito de somar forças, apoiados em nossa longa trajetória de luta contra o autoritarismo, a intolerância e de defesa da laicidade do Estado. Atuando em diferentes campos, sempre ressaltamos a centralidade dos direitos sexuais e reprodutivos na construção de um país igualitário e, verdadeiramente, democrático.

Consideramos particularmente grave o cenário político atual do país, cujo tecido social vem vendo corroído pelo ódio, pelo aniquilamento moral do adversário, e pelo uso sistemático da religião para defender interesses político-partidários, ameaçando os princípios republicanos de respeito ao pluralismo e a laicidade do Estado.

A PEC 164/2012 viola direitos adquiridos, pois pretende eliminar o ordenamento legal e jurídico vigente, que acolhe a decisão de quem, em situação de risco de vida – gravidez resultante de estupro ou de anencefalia fetal – opta por realizar um abortamento. Ao negar um direito já assegurado, atenta contra a dignidade humana de cidadãs brasileiras. Cumpre ressaltar que, no Brasil, é crime realizar um abortamento sem consentimento da gestante, já estando assim assegurados os direitos de quem opta por não interromper a gravidez em qualquer circunstância. Neste sentido, esta PEC é injusta e autoritária por substituir a opção de manter ou interromper a gestação nessas situações, pela interdição absoluta do abortamento.

Esperamos que o Congresso Nacional considere como primordial a dimensão da saúde, do direito a vida e da dignidade humana das cidadãs e meninas brasileiras. Sobretudo em razão dos índices alarmantes de mortalidade e morbidade materna, nos quais o aborto inseguro representa a quarta e quinta causa de óbitos maternos, afetando mais mulheres e meninas negras. O direito à saúde e à justiça reprodutiva não podem ser submetidos a interesses e acordos político partidários conjunturais que ferem a Constituição de 1988.

Acesse o artigo no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas