19/01/2012 – Leis contra o aborto não impedem disseminação da prática, diz estudo

19 de janeiro, 2012

(BBC Brasil) Um estudo publicado na revista médica The Lancet contraria o argumento de que leis severas contra o aborto reduzem a disseminação da prática.

Analisando dados de 1995 a 2008, o levantamento do instituto americano Guttmacher mostra que as mais altas taxas de abortos estão justamente em regiões com legislação restritiva.

Na América Latina, que tem relativamente o mais alto número de abortos em todo o mundo, a maioria dos países proíbe a prática, apontou o estudo, Aborto Induzido: Incidência e Tendências Globais.

Em 2008, uma média de 32 entre mil mulheres (entre 15 e 44 anos) fizeram aborto na região. No mesmo ano, a taxa da África foi de 29 mulheres.

Em contrapartida, na Europa Ocidental – onde a legislação é mais permissiva -, esse número caiu para 12.

Perigo

Apesar de mostrar que a quantidade de abortos, após um período de queda, se estabilizou, o estudo destaca que a prática realizada de maneira insegura vem crescendo.

Em 2008, uma média de 28 mulheres em cada mil fizeram aborto – uma queda em relação a 1995, quando essa taxa era de 35 mulheres.

Mas o número de gestações interrompidas com práticas que apresentam riscos às mulheres cresceu entre os dois períodos analisados, de 44% em 1995 para 49% em 2008.

“Abortos feitos de acordo com as recomendações médicas têm um baixo risco de complicações. No entanto, os que são realizados sem essa preocupação provocam altas taxas de mortalidade materna em todo o mundo”, destaca a pesquisa.

O estudo chama atenção especialmente para regiões onde os abortos são realizados apresentando mais perigos para a mulher.

Na África, essa taxa chega a 97% do total de abortos. O continente é seguido pela América Latina (95%), Ásia (40%), Oceania (15%), Europa (9%) e América do Norte (menos que 0,5%).

América Latina

Entre as recomendações relativas à América Latina feitas pelo Instituto Guttmacher, que é parceiro Organização Mundial da Saúde, estão um maior investimento em programas de conscientização sobre métodos contraceptivos.

“Também é necessário aprimorar e expandir o tratamento no pós-aborto para reduzir os altos índices de mortalidade que resultam de abortos feitos de maneira insegura”, diz o documento.

O estudo também sugere um maior acesso a sistemas de planejamento familiar nas regiões mais remotas.

“A base da legislação que permite abortos deve ser ampliada, para reduzir a necessidade das mulheres de recorrer a abortos clandestinos”, diz o relatório.

Acesse em pdf: Leis contra o aborto não impedem disseminação da prática, diz estudo (BBC Brasil – 19/01/2012)


(UOL Notícias) Uma queda prolongada das taxas de aborto se afunilou e o número de interrupções não seguras da gravidez está aumentando de forma preocupante, revelou um informe publicado na edição da revista científica The Lancet.

Entre 1995 e 2003, o número de abortos entre mulheres com idades entre 15 e 44 anos caiu de 35 para 29 a cada 1.000 em todo o mundo.

Mas em 2008, a taxa ficou quase inalterada, em 28 a cada 1.000, devido a um salto nos abortos em países em desenvolvimento.

O artigo da The Lancet também chamou atenção para um aumento dramático na proporção de abortos feitos sem segurança.

Este tipo de procedimento aumentou de 44% do total em 1995 para quase um em cada dois (ou 49%) em 2008, infligindo uma cifra traumática de mortes e danos físicos.

“A tendência declinante do aborto que observamos globalmente se estabilizou e também estamos vendo uma proporção crescente de abortos ocorrendo em países em desenvolvimento, onde o procedimento frequentemente é clandestino e inseguro”, disse Gilda Sedgh, do Instituto Guttmacher, em Nova York.

“Isto é razão de preocupação”, acrescentou.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera aborto inseguro a interrupção da gravidez realizada por um indivíduo sem as habilidades necessárias ou em um ambiente que não esteja de acordo com padrões médicos mínimos, ou quando as duas situações estão presentes.

Em todo o mundo, os abortos inseguros foram a causa de 220 mortes a cada 100 mil procedimentos em 2008 – 35 vezes mais do que a taxa de abortos legais nos Estados Unidos – e de quase uma em cada sete do total de mortes maternas.

Anualmente, cerca de 8,5 milhões de mulheres em países em desenvolvimento sofrem complicações decorrentes do aborto, tão sérias que necessitam de cuidados médicos.

O relatório também fez soar o alerta sobre o uso crescente de um medicamento chamado misoprostol. Utilizado no tratamento de úlceras gástricas, o remédio também é licenciado na França, Espanha e meia dúzia de outros países para a interrupção da gravidez.

Atualmente, embora seja ilegal, seu uso tem aumentado em países onde há leis restritivas ao aborto, acrescentou a pesquisa. Doses impróprias causam complicações, como sangramento prolongado ou intenso ou abortos incompletos.

Em termos gerais, foram realizados 43,8 milhões de abortos em 2008, um aumento de 2,2 milhões com relação a 2003, destacou o artigo.

Os cientistas atribuíram o fato ao aumento continuado da população mundial e ao uso menor de contraceptivos, especialmente nos países em desenvolvimento, que agora respondem por mais de três quartos do total de abortos.

Em termos percentuais da população de mulheres férteis, a taxa de abortos permaneceu amplamente inalterada.

“Este platô coincide com uma redução no uso de anticoncepcionais”, disse Sedgh, cuja equipe contou com o apoio da OMS nesta pesquisa.

“Sem maiores investimentos em serviços de planejamento familiar, podemos esperar que esta tendência persista”, acrescentou.

O leste europeu, onde sob o legado comunista as interrupções da gravidez são disponíveis livremente, mas o uso de anticoncepcionais ainda está atrasado, teve a maior incidência de abortos em todas as regiões, com 43 por 1.000 mulheres em 2008.

Seguiram-se o Caribe (39/1.000), o leste da África (38/1.000), o centro da África e o sudeste da Ásia (36/1.000).

As menores taxas foram identificadas na Europa ocidental (12/1.000), na África Austral (15/1.000), na Oceania (17/1.000), no norte da África (18/1.000) e na América do Norte (19/1.000).

Quanto aos abortos inseguros, as regiões que correm mais riscos são a América Central e do Sul, além da África Central e ocidental, onde 100% de todas as interrupções da gravidez foram inseridas nesta categoria.

Em contrapartida, mais de 99,5% de todos os abortos realizados na Europa ocidental e na América do Norte foram considerados seguros.

A Ásia demonstrou tendências contraditórias. No leste, mais de 0,5% dos abortos foram considerados inseguros, mas na região sul-central, esta proporção foi de 65%.

Acesse em pdf: Estudo global alerta para aumento dos abortos inseguros (UOL Notícias – 19/01/2012)

Leia também:
Aborto é mais frequente em países onde é proibido, aponta estudo (Blog Marie Claire – 20/01/2012)
Entre 2003 e 2008, taxa de aborto no mundo permaneceu estável (O Globo – 19/01/2012)
19/01/2012 – Taxa de aborto inseguro sobe no mundo

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