20/09/2013 – Papa critica a ‘obsessão’ da igreja por aborto e união gay

20 de setembro, 2013

(Folha de S.Paulo) Em longa entrevista para marcar os seis meses de seu pontificado, completados ontem, o papa Francisco, 76, disse que a Igreja Católica não pode ser “obcecada” com a condenação ao aborto, à contracepção e ao casamento gay.

Ele declarou ainda, ao discutir a homossexualidade, que não é possível interferir espiritualmente na vida de uma pessoa e pediu que a igreja encontre “um novo equilíbrio” em suas prioridades. “Senão, mesmo o edifício moral da igreja provavelmente cairá como um castelo de cartas”, afirmou ele.

Leia também: Papa abre Igreja aos gays, aos divorciados e às mulheres que abortam (O Estado de S.Paulo)

Francisco concedeu a entrevista em agosto, em três encontros com o também jesuíta Antonio Spadaro, editor do jornal italiano “La Civiltà Cattolica”. O papa já falara à Globo News quando veio ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, em julho. A entrevista a Spadaro, porém, é a primeira mais extensa desde que ele foi eleito.

Com ela, busca reforçar um novo estilo para a igreja –menos apegado às doutrinas, embora sem modificá-las.

O papa também vem se diferenciando de seu antecessor, Bento 16, ao transmitir uma imagem de modéstia nos hábitos pessoais. Ele demonstra ainda preocupação com reformas na Cúria, tentando evitar novos escândalos financeiros e de pedofilia.

Na entrevista, Francisco defendeu que a igreja gaste menos tempo com temas polêmicos. “Não podemos insistir só nas questões relativas a aborto, casamento gay e uso de métodos contraceptivos.”

“O ensinamento da igreja sobre esses assuntos é claro, e eu sou um filho da igreja”, prosseguiu o papa. “Mas não é necessário falar sobre essas questões o tempo todo. O ministério pastoral da igreja não pode ser obcecado em transmitir uma multidão de doutrinas desconexas a serem impostas insistentemente.”

Para Francisco, a religião tem o direito de expressar suas opiniões, “mas Deus, na criação, nos libertou” –o que explica a impossibilidade de interferência espiritual.

“Certa vez uma pessoa me perguntou, de forma provocativa, se eu aprovava a homossexualidade. Respondi com outra pergunta: Quando Deus olha para uma pessoa gay, endossa a existência dela com amor ou a rejeita?’.”

Sobre o aborto, ele dá a entender que é preciso ter misericórdia com uma mulher que desistiu de uma gravidez no passado, mas se arrependeu.

“Esse aborto no passado pesa na consciência [dela]. Ela gostaria de seguir adiante na vida cristã. O que seu confessor deve fazer?”.

‘NUNCA FUI DE DIREITA’

Logo no início da conversa com Spadaro, Francisco respondeu à pergunta “quem é Jorge Mario Bergoglio?”, seu nome de batismo: “Sou um pecador. Não é figura de linguagem nem gênero literário. O melhor resumo, que eu sinto como mais verdadeiro, é: sou um pecador que o Senhor levou em consideração”.

O papa também falou de sua juventude na Argentina –onde chegaria a arcebispo da capital, Buenos Aires– e de como foi tornar-se um provincial (superior dos jesuítas) com apenas 36 anos.

Em momento revelador, confessou viés autoritário na juventude. “Eu tinha de lidar com situações difíceis; tomava minhas decisões sozinho e de maneira abrupta.”

“Minha maneira autoritária e rápida de decidir me levou a ter problemas e a ser acusado de ultraconservador. Mas nunca fui de direita.”

Acesse o PDF: Papa critica a ‘obsessão’ da igreja por aborto e união gay (Folha de S.Paulo – 20/09/2013)     

 

 

 

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