Novas regras para diminuir cesarianas dividem opiniões entre profissionais e ativistas

07 de julho, 2015

(Rede Brasil Atual, 07/07/2015) ANS aposta nas informações como a principal ferramenta para tomada de decisão; representante do Parto Humanizado crê que, ao longo dos anos, as mulheres vão acabar se transportando para a cultura do parto normal

As novas regras anunciadas ontem (6) pela Agência Nacional de Saúde (ANS) para diminuir o número de cesáreas no Brasil divide opiniões entre ativistas, profissionais e representantes de gestantes. Em entrevista à Rádio Brasil Atual, a ativista do movimento Parto Humanizado Débora Delage avalia que as mudanças da Resolução 386 não vão impactar na redução dessas cirurgias. “Eu acredito que não haverá um impacto muito grande no começo, porque é um contexto que não será resolvido com uma medida única.”

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Para Débora, a exposição dos índices de cesáreas praticadas pelo obstetra é o fator positivo da nova medida, mas ela acredita que pode levar profissionais ao descredenciamento dos planos de saúde. “Muitos médicos podem parar de realizar parto e só fazer pré-natal. Eu conheço mulheres que já questionam as operadoras sobre os médicos que fazem menos cesáreas, e as operadoras têm dificuldades de apontá-los. O problema é multifatorial, originado na formação acadêmica dos doutores, e também na falta de regulação do sistema de saúde.”

Segundo o médico João Luis Barroca, assessor da ANS, o órgão aposta nas informações como a principal ferramenta para que a gestante tome decisões mais conscientes. “Precisamos jogar um facho de luz nessa decisão, para deixar claro que a informação é a evolução da gestação. Se conseguirmos que todos os bebês nasçam quando o corpo apontar para o nascimento, tirando as exceções, tenho certeza de que a saúde das crianças e das mães melhorará.”

As novas regras não impedem que a mulher opte pela cesariana, mesmo sem apresentar a necessidade clínica, mas vai exigir que ela e o médico se responsabilizem pelo procedimento. “Se a paciente, mesmo sem a indicação clínica, quiser fazer a cesariana, assinará um termo de consentimento de que sabe dos riscos. Isso estará coberto pela operadora, então não há prejuízo nenhum à gestante. Há melhoria no sistema de informação”, afirma Barroca.

Débora teme que o índice de violência obstétrica, que são as intervenções feitas sem consentimento da gestante antes, durante ou após o parto, aumentem com o crescimento dos partos normais.

Ela acredita que com o empoderamento da mulher e a desconstrução da cesárea como uma decisão que oferece menos risco, a opção pela cirurgia eletiva deve diminuir. “Ao longo dos anos, as mulheres vão acabar se transportando para outra cultura, de que o parto normal será melhor para elas e para os bebês. Foi construído no imaginário que a cesariana é melhor.”

Em nota, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetria (Febrasgo) informou que é a favor do incentivo ao parto normal no Brasil, mas que a divulgação individual de partos realizados por um profissional pode remeter a uma visão distorcida do perfil de cada médico. Para a Febrasgo, pode haver casos de obstetras que têm um índice elevado de cesárea em uma determinada operadora e menor numa outra, isso porque, segundo a federação, existem profissionais especializados em partos de alto risco quer têm índices maiores de cesáreas, mas isso não significa que esses médicos não fazem parto normal.

Segundo a ANS, a cesariana eletiva aumenta em 120 vezes a probabilidades de problemas respiratórios em recém-nascidos, e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais estão relacionados à prematuridade de bebês retirados antes da hora.

Ouça a reportagem de Camila Salmazio da Rádio Brasil Atual

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