De 3,8% a 8,8% das mulheres grávidas no mundo sofrem violência pelos chamados parceiros íntimos, como maridos, namorados e companheiros. Mulheres que se casam antes dos 18 anos tendem a sofrer mais violência de gênero por parte dos parceiros. Os dados foram apresentados pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) na terça-feira (19), durante fórum internacional sobre o tema no Rio de Janeiro.
(ONU Brasil, 20/09/2017 – acesse no site de origem)
“A violência por parceiro íntimo durante a gestação é generalizada — estimam que entre 3,8% e 8,8% das grávidas experimentem esse tipo de violência. Inclusive, a gravidez, em si, pode ser um fator para o aparecimento da violência”, alertou a assessora para violência de gênero do UNFPA, Upala Devi.
Segundo a especialista, a violência de gênero durante a gravidez tem sérios impactos negativos para as mulheres, como depressão, lesões e outros problemas físicos ou de saúde. Também pode se estender aos filhos, refletida em partos prematuros, baixo peso ao nascer e resultados de saúde ruins durante a infância.
Violência perpetuada
A violência que acontece durante a gestação pode não ser apenas uma fase pela qual passam as vítimas. A experiência do UNFPA aponta que muitas mulheres que se casam antes dos 18 anos o fazem para fugir de outros tipos de violência. Mas, pela falta de autonomia, tendem a ser as maiores vítimas da violência por parceiros íntimos.
“A violência baseada em gênero é causa e conseqüência: o casamento infantil às vezes é uma fuga da violência, mas se casar ou entrar em união antes dos 18 anos aumenta a probabilidade de uma menina sofrer violência do parceiro íntimo ao longo de sua vida”, afirmou a assessora regional de gênero para a América Latina e Caribe do UNFPA, Neus Bernabeu.
Em diferentes fases da vida, a violência contra mulheres e meninas é uma das violações de direitos humanos mais prevalentes no mundo. Segundo o UNFPA, ela afeta a saúde, a dignidade, a segurança e a autonomia de suas vítimas e, consequentemente, traz problemas para a saúde sexual e reprodutiva, incluindo gestações não planejadas, abortos inseguros, fístula traumática, infecções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV, e até a morte.
Empoderamento em ações Sul-Sul
Uma das formas de enfrentar a violência de gênero, e que tem sido trabalhada pelo UNFPA Brasil, é a troca de experiências e o empoderamento das mulheres, em especial dos países do Sul global. Dentro do projeto “Brasil-África: lutar contra a pobreza e empoderar as mulheres via Cooperação Sul-Sul”, o UNFPA Brasil promove o intercâmbio de políticas e boas práticas para o enfrentamento à violência de gênero.
“Os países estão comprometidos com a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que trata especificamente da igualdade de gênero no ODS 5. Nesse contexto, a Cooperação Sul-Sul oferece um modelo que pode ser utilizado para compartilhar boas práticas na prevenção e na abordagem da violência de gênero”, destacou a oficial dos Programas de Gênero, Raça e Etnia e de Cooperação Sul-Sul do UNFPA Brasil, Ana Claudia Pereira.
O projeto foi desenvolvido entre 2015 e 2017 e contou com apoio técnico do UNFPA, da ONU Mulheres e outros parceiros de desenvolvimento. Entre os resultados alcançados estão a capacitação de profissionais de diversas áreas e a criação de um manual de sensibilização de profissionais para o atendimento de mulheres e adolescentes em situação de violência de gênero.
Sobre o Fórum
O Fórum Internacional da Sexual Violence Research Initiative (Iniciativa para Pesquisa da Violência Sexual, em português) vem levantando discussões voltadas para experiências e pesquisas de prevenção e resposta à violência sexual e baseada no gênero em países de baixa e média renda, em diversos contextos sociais.
O evento, que começou na segunda (18) e vai até quinta-feira (21), tem o objetivo de discutir de que forma o combate à violência contra mulheres e meninas pode contribuir para a igualdade de direitos entre homens e mulheres, quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas, acordado por 193 países. Além da participação nas sessões de debate, o UNFPA está presente em dois estandes no evento.